Arquivo da categoria: Volume 4, número 2 (2014)

INTERDISCURSO, DIALOGISMO, POLIFONIA E HISTORICIDADE NAS CANÇÕES PAIS E FILHOS E 1965 (DUAS TRIBOS), DA LEGIÃO URBANA

INTERDISCURSO, DIALOGISMO, POLIFONIA E HISTORICIDADE NAS CANÇÕES PAIS E FILHOS E 1965 (DUAS TRIBOS), DA LEGIÃO URBANA

INTERDISCOURSE, DIALOGISM, POLYPHONY AND HISTORICITY IN THE SONGS PAIS E FILHOS AND 1965 (DUAS TRIBOS), BY LEGIÃO URBANA

ProfªViviane Lima Martins

Mestre em Comunicação e Semiótica – PUC-SP

E-mail: viviane_martins1@hotmail.com

Resumo

Esta breve análise tem como objetivo compreender como se dão os processos de produção de sentido nas músicas 1965 (Duas tribos) e Pais e filhos, da Legião Urbana, no que tange conceitos de Interdiscurso, Dialogismo, Polifonia e Historicidade. A Análise do Discurso nos fornece métodos teóricos eficientes para a análise de todo tipo de discurso, como também nos auxilia a ultrapassar a superficialidade da primeira leitura de um texto.

Palavras-chave: Análise do Discurso, Legião Urbana, música, historicidade.

ABSTRACT

This brief review aims to understand how to give the processes of meaning production in the musics 1965 (Duas tribos) and Pais e filhos, by Legião Urbana, regarding concepts Interdiscourse, Dialogism, Polyphony and Historicity. A Discourse Analysis provides the efficient for the analysis of all types of discourse theoretical methods, but also helps us overcome the superficiality of the first reading of a text.

Keywords: Discourse Analysis, Legião Urbana, music, history.

INTRODUÇÃO

A Legião Urbana, ainda hoje, dezoito anos depois da morte de seu líder, o cantor e compositor Renato Russo, continua sendo a banda de rock nacional que mais vende discos no Brasil. A legião de fãs, formada por pessoas de todas as idades, sexo e crença, se encontra espalhada por todo o país.

A banda formou-se na violenta Brasília da década de 70, com o nome inicial de Aborto Elétrico. A Legião emergiu mesmo no início da década de 80, lançando em 1984 seu primeiro disco, intitulado Legião Urbana. Foram mais de 12 anos de sucesso, sete discos inéditos, duas coletâneas e três solos de Renato Russo.

De fato, o que mais encantava aos fiéis seguidores da Legião era o caráter forte e ousado de suas letras, ora falando de amor, ora falando de dor e opressão. A realidade está presente nas canções: situações reais vividas por milhares de pessoas, uma espécie de crônica cantada.

O vocalista da banda, Renato Russo, pode não ter sido um exemplo de homem. Homossexual assumido, considerado por muitos de instinto violento e anti-social, e dependente de drogas por vários anos, narrava em suas letras seus dramas e medos, incorporando-os a muitas outras gerações. Em uma sociedade tão preconceituosa, Renato foi vencedor e tornou-se ídolo.

Para a presente análise, foram escolhidas duas canções do quarto disco da banda, intitulado As quatro estações, de 1989, e que, segundo os próprios integrantes do grupo, foi o mais belo trabalho por eles realizado. Essa afirmação pode ser percebida na nota escrita por Russo no encarte do disco: “Existem marés e existe a lua. Existem canções” (1989). Sinônimo de um sentimento singular, em meio à mesmice que atingia a época, retratado por belíssimas canções.

1. PAIS E FILHOS: somos como nossos pais

Estátuas e cofres e paredes pintadas
Ninguém sabe o que aconteceu.
Ela se jogou da janela do quinto andar
Nada fácil de entender.
Dorme agora: é só o vento lá fora.
Quero colo
Vou fugir de casa
Posso dormir aqui com vocês?
Estou como medo, tive um pesadelo.
Só vou voltar depois das três.
Meu filho vai ter nome da santo
Quero o nome mais bonito.
É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã
Porque se você parar para pensar,
na verdade, não há.
Me diz por que que o céu é azul?
Me explica a grande fúria do mundo.
São meus filhos que tomam conta de mim.
Eu moro com a minha mãe, mas meu pai vem me visitar.
Eu moro na rua, não tenho ninguém
Eu moro em qualquer lugar.
Já morei em tanta casa que nem me lembro mais.
Eu moro com meus pais.
É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã
Porque se você parar para pensar,
Na verdade, não há.
Sou a gota d’água, sou um grão de areia
Você me diz que seus pais não entendem
Mas você não entende seus pais.
Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo: são crianças
como você.
O que você vai ser quando você crescer?

(LEGIÃO URBANA, 1989, faixa 2)

A música Pais e filhos nasceu como uma homenagem a uma adolescente que, devido a problemas com seus pais, cometeu o suicídio. Renato não a conhecia, apenas soube da notícia pelo jornal. O objetivo da análise é verificar o interdiscurso, presente nas entrelinhas e os sujeitos da enunciação. Para isso, contaremos com os conceitos estabelecidos por Bahktin (2003) e recolocados por Orlandi (1999 e 2001) e Brait (2003).

A Análise do Discurso busca estudar o discurso, a prática da linguagem e trabalha com a língua considerando os sentidos produzidos a partir do que é dito. É uma teoria e um instrumento de leitura e interpretação de texto, sendo que tal interpretação visa à compreensão de uma discursividade a partir do dito, tomado como estrutura, mas também como acontecimento: encontro de uma atualidade com uma memória (PÊCHEUX, 1997).

Iniciaremos pelo que mais chama atenção: a polifonia, isto é, as várias vozes presentes no texto. Como podemos perceber, o texto é um recorte das falas de adultos (pais) e crianças ou adolescentes (filhos). Em princípio, é colocado, como forma implícita de justificativa, o fato gerador do texto: o suicídio da jovem. Em seguida, ouvem-se os vários discursos típicos dos filhos, sejam eles pequenos (“quero colo”, “estou com medo”, “tive um pesadelo”) ou não (“só vou voltar depois das três”). A “voz” dos pais, colocada após, representa a ansiedade na chegada do filho. Até este ponto, podemos dizer que há certa harmonia de ideias, pois são situações bastante comuns.

É feita uma pausa, e uma voz melancólica diz que é “preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar para pensar, na verdade, não há”. (LEGIÃO URBANA, 1989). Podemos pensar em um paradoxo: “filho”, “criança” são sinônimos de futuro e, no entanto, o sujeito lírico nos demonstra não crer neste futuro.

A segunda parte inicia-se com “perguntinhas” que as crianças costumam fazer, seguidas de outros relatos que, desta vez, condizem com uma situação mais delicada, mais dolorosa. No primeiro deles, “são meus filhos que tomam conta de mim” (LEGIÃO URBANA, 1989), podemos verificar duas coisas: dependendo da enunciação, é possível sentir a tristeza de ser dependente de alguém ou a alegria de ser amparado por alguém. Os demais que seguem referem-se aos vários tipos de relacionamento entre pais e filhos: pais separados, filhos que foram abandonados, famílias unidas. Portanto, é no “depoimento” dos “filhos” que se encaixa o interdiscurso. De frases simples, como “eu moro na rua, não tenho ninguém, eu moro em qualquer lugar / já morei em tanta casa que nem me lembro mais / eu moro com meus pais” (LEGIÃO URBANA, 1989), podemos notar a discrepância social presente, principalmente, nas grandes cidades. Renato Russo, apostando em nossos pressupostos, faz uma crítica nos conduzindo à reflexão sobre tal realidade. Talvez, agora, a repetição do trecho “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar para pensar, na verdade não há” (LEGIÃO URBANA, 1989), possa ser explicada, já que, se não cuidarmos de nossos filhos, não haverá futuro. É uma isotopia que nos permite chegar mais perto daquilo que o autor gostaria que pensássemos sobre sua obra.

As expressões finais “Sou uma gota d’água, sou um grão de areia” (LEGIÃO URBANA, 1989) referem-se às relações de hereditariedade entre pais e filhos, questão esta retomada nas últimas frase: “Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo: são crianças como você / O que você vai ser quando você crescer?” (LEGIÃO URBANA, 1989). É curiosa a colocação do ponto de interrogação na última frase; na canção, Renato não a enfatiza como se fosse uma pergunta, mas a cita como uma afirmação, mesclando a tradicional pergunta que toda criança, um dia, responde e a afirmação de que somos e seremos como nossos pais.

Temos, assim, conceitos importantes como dialogismo, polifonia, interdiscurso, pressupostos, todos difundidos, mas que passam despercebidos por milhares de pessoas que cantam e refletem ao som de tão bela canção.

2. 1965 (Duas tribos): conflitos no passado e no presente

Vou passar, quero ver
Volta aqui, vem você
Como foi ? Nem sentiu se era falso ou fevereiro
Temos paz, temos tempo
Chegou a hora e agora é aqui.
Cortaram meus braços, cortaram minhas mãos,
Cortaram minhas pernas num dia de verão
Num dia de verão, num dia de verão
Podia ser meu pai, podia ser meu irmão
Não se esqueça: temos sorte e agora é aqui.
Quando querem transformar dignidade em doença
Quando querem transformar inteligência em traição
Quando querem transformar estupidez em recompensa
Quando querem transformar esperança em maldição:
É o bem contra o mal e você de que lado está ?
Estou do lado do bem, e você de que lado está ?
Estou do lado do bem com a luz e com os anjos.
Mataram um menino
Tinha arma de verdade,
Tinha arma nenhuma,
Tinha arma de brinquedo
Eu tenho autorama, eu tenho Hanna-Barbera
Eu tenho pêra, uva e maça
Eu tenho Guanabara e Modelos Revell
O Brasil é o país do futuro
Em toda e qualquer situação eu quero tudo pra cima.

(LEGIÃO URBANA, 1989, faixa 6)

O ano de 1965 foi marcado por manifestações, principalmente de jovens indignados com a ditadura militar imposta com tamanha autoridade, em todo o Brasil. Renato Russo era apenas uma criança nessa época, mas, filho de imigrantes italianos e simpatizantes do Partido Comunista Italiano, muitos de seus familiares foram perseguidos pelo governo militarista, alguns até sendo extraditados.

Os vinte e um anos que separam o início da ditadura (1965) e o ano da composição de música (1986) são relatados através de um jogo de palavras e frases metafóricas que mesclam o passado e o presente. Partindo disto, nosso objetivo é verificar a intertextualidade, os pormenores e o dialogismo presentes na canção, bem como a própria questão da historicidade.

Segundo Orlandi (1999), todo discurso é visto como um estado de um processo discursivo mais amplo, contínuo. Desse modo, um dizer tem relação com outros dizeres realizados, imaginados ou possíveis. Para a autora (1999), tudo isso deveria levar-nos a colocar o problema da leitura nas suas relações com o leitor, e não mais somente com o texto. Desse modo, “[…] há uma relação entre o já dito e o que está dizendo que é a que existe entre o interdiscurso e o intradiscurso ou, em outras palavras, entre a constituição do sentido e sua formulação”. (ORLANDI, 1999, p. 45).

A intertextualidade com fatos passados é o elemento mais presente em 1965 (Duas tribos). No primeiro verso, a frase “Vou passar” pode ser considerada como uma paródia da canção Vai Passar, de Chico Buarque de Hollanda, a qual também fala da ditadura militar. Assim, podemos dividir a música da Legião Urbana em duas partes, pois temos dois momentos distintos: um no passado, outro no presente; “duas tribos”, como denominou o próprio compositor, Renato Russo.

Na primeira parte, é possível traçar uma espécie de panorama da situação de repressão que assolava os primeiros meses pós-golpe militar. Referimo-nos aos primeiros meses devido a duas citações temporais presentes na música: “fevereiro” (3º verso) e “num dia de verão” (8º verso). O sinônimo de “castração”, de censura aparece nos versos “Cortaram meus braços, cortaram minhas mãos, cortaram minhas pernas”. (LEGIÃO URBANA, 1989). Críticas às atitudes de alguns também são explícitas: “Quando querem transformar dignidade em doença, quando querem transformar inteligência em traição, quando querem transformar estupidez em recompensa, quando querem transformar esperança em maldição”. (LEGIÃO URBANA, 1989). Mais uma vez, a questão da historicidade emerge nas palavras de Russo. O autor se refere às atitudes dos militares que corrompiam e subornavam pessoas, visando a obter informações sobre aqueles que eram contra o sistema. Estas pessoas, Renato qualifica como ignorantes e estúpidas; a “esperança” estaria em um novo regime, pelo qual lutavam os jovens, e o qual os militares queriam fazer crer que este estaria ligado a todo tipo de mal: o comunismo. A pergunta “E você de que lado está?”, faz alusão a um dos jargões da ditadura: “Quem não está comigo está contra mim”.

Do 17º ao 23º verso, segunda parte do texto, temos a menção do sujeito lírico à realidade da época. A intertextualidade está presente na relação subentendida que temos da situação de violência envolvendo crianças. O dialogismo aparece nos comentários sobre o assassinato de um menino e descreve relatos contraditórios das testemunhas: “tinha arma de verdade / tinha arma nenhuma / tinha arma de brinquedo”. (LEGIÃO URBANA, 1989). E, como um paradoxo a esta situação que caracteriza o infortúnio de um garoto pobre, aparece o discurso polifônico de outro garoto, porém pertencente à classe média-alta: “Eu tenho autorama / eu tenho Hanna-Barbera / eu tenho pêra, uva e maçã / eu tenho Guanabara e modelos Revell”. (LEGIÃO URBANA, 1989). Estes pormenores constituem um cenário que revela o desnivelamento total entre as classes sociais no Brasil, e a este o sujeito lírico responde, ironicamente, com outra frase de efeito utilizada até hoje, principalmente, por políticos: “O Brasil é o país do futuro”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com Orlandi (1999), quando falamos em historicidade, não pensamos a história refletida no texto, mas tratamos da historicidade do texto em sua materialidade. A pesquisadora (1999) informa que o que chamamos historicidade é o acontecimento do texto como discurso, o trabalho dos sentidos nele.

Partindo das análises feitas, podemos perceber que tais elementos como intertextualidade, dialogismo, pormenores, pressupostos e subentendidos estão presentes nos mais diferentes tipos de texto e adentram a vida daqueles que os leem sem que estes percebam. É impossível ouvir atentamente uma música de bandas como a Legião Urbana sem refletir a respeito das questões colocada em suas letras.

Para tanto, seus compositores utilizavam-se sempre de uma linguagem acessível, muitas vezes coloquial e com alta dosagem de metáforas e ironia. Nas canções analisadas temos alguns exemplos, conforme grifos meus: “Me diz por que que o céu é azul” e “Já morei em tanta casa”, em Pais e filhos; “Eu quero tudo pra cima”, em 1965 (Duas tribos).

Além da polifonia e da intertextualidade, outro fator importante e comum nas duas canções analisadas é a situação das crianças brasileiras. Em ambos os textos nota-se uma preocupação e certa falta de esperança no futuro. Este está nas mãos das crianças, no entanto muitas dormem nas ruas, roubam, matam. Em que devemos acreditar: que “o Brasil é o país do futuro” ou que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se [pararmos] para pensar, na verdade, não há?”. Cabe a nós refletirmos e agirmos para mudar essa dura realidade que dia a dia se agrava, pois entre o passado e o presente pouco se fez para acabar com as alarmantes discrepâncias sociais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BARONAS, Roberto (Orgs.). Análise do Discurso: as materialidades do sentido. 2. ed. São Carlos: Claraluz, 2003.

BRAIT, Beth. O discurso sob o olhar de Bakhtin. In: GREGOLIN, Maria do Rosário;
LEGIÃO URBANA. As quatro estações. [s.l.]: EMI, 1989. 1 CD.

ORLANDI, Eni Puccinelli. Leitura: teoria e prática. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1999.
_____. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 3. ed. Campinas: Pontes, 2001.

PÊCHEUX, Michel. Discurso: estrutura ou acontecimento. São Paulo: Pontes, 1997.
RIVERA, Leonardo; CALDAS, Murilo. Renato Russo: site oficial, [s.l.], [s.a.]. Disponível em: http://www.renatorusso.com.br/site/. Acesso em: 14 mar. 2014.

MARCAS DA ORALIDADE EM DIÁLOGOS DO CONTO INTIMIDADE, DE DANIEL GALERA

MARCAS DA ORALIDADE EM DIÁLOGOS DO CONTO INTIMIDADE, DE DANIEL GALERA

SPEECH MARKS IN THE DIALOGS OF DANIEL GALERA´S SHORT STORY INTIMIDADE

Prof. Victor Matheus Victorino da Costa

Mestrando em Língua Portuguesa pela PUC-SP

E-mail: vic.tor.ino@hotmail.com

Resumo

Este artigo tem por tema a oralidade presente em um texto literário, mais especificamente o conto Intimidade, retirado da obra Dentes Guardados (2001), de Daniel Galera. Tem por objetivo analisar as representações da fala cotidiana nos diálogos dos personagens e, para tanto, utilizaremos como base teórica a Sociolinguística. De acordo com os estudos de Preti (1984; 2010) e Tannen (1987; 1996), observaremos as variações socioculturais, psicológicas e geográficas, detendo-nos nas gírias, expressões de baixo calão e contrações nas falas dos personagens. No percurso desta análise linguística pudemos concluir que, embora seja um texto de ficção, encontramos exemplos muitos próximos da linguagem falada num registro informal, variações geográficas comuns a diversas partes do país (principalmente na sul), e falas de homens e mulheres muito próximas, como tem ocorrido atualmente.

ABSTRACT

In this paper we focus on speech marks in a literary text, specifically in the short story Intimidade, published in the book Dentes Guardados (2001), written by Daniel Galera. We seek to analyze the representations of everyday speech in the characters’ dialogs, using the sociolinguistics theory. According to Preti (1984; 2010) and Tannen (1987; 1996) studies, we observe the sociocultural, psychological and geographical variations, fixing on slangs, coarse language and contractions in the characters’ speech. During this linguistic analysis we could conclude that, although the short story is a fiction text, we found examples close to language in informal talk, common geographical variations in Brazil (mainly in south), and very similar speeches of men and women, as have been lately.

INTRODUÇÃO

No presente trabalho serão analisadas as marcas da oralidade no conto Intimidade, de Daniel Galera. Este conto faz parte do livro Dentes Guardados, publicado originalmente em Porto Alegre, no ano de 2001. Ressaltamos que o corpus, por ser retirado de um texto literário, não configura uma transcrição de fala, mas representa a características da oralidade contemporânea.

Focalizaremos dois diálogos do personagem principal: o primeiro com sua namorada e o segundo com um colega. Principal atenção será dada a expressões e formas típicas da fala, comentando-se as mais comumente encontradas nas interações reais. Será feita, a princípio, a macroanálise e, posteriormente a microanálise do texto. Ao final, algumas conclusões serão apontadas.

2. VARIÁVEIS SOCIOCULTURAIS, PSICOLÓGICAS E GEOGRÁFICAS

Depreendemos, a partir de comentários do narrador e dos diálogos estabelecidos entre os personagens, poucos detalhes sobre as variáveis socioculturais e geográficas. Podemos entender que os personagens são jovens, universitários e de classe média alta, fazendo assim parte de um “grupo social”, como definido por Preti (cf. 2010, p. 160). Pela linguagem, todos moram numa capital, a qual não é mencionada na narrativa. Já a variável psicológica está mais delimitada no texto.

Os namorados têm uma relação íntima, e nesse contexto se desenvolve o primeiro diálogo: há um conflito iniciado pelo personagem principal, o qual se sente irritado pela namorada ter usado sua escova de dente. Assim, ele a questiona de forma rude, num registro totalmente informal, proveniente dessa intimidade. Linda a princípio se silencia, mas depois também se irrita porque para ela faz parte da intimidade existente no relacionamento entre namorados compartilhar objetos de uso pessoal. Há diferenças psicológicas, entre homens e mulheres, nas expectativas de comportamento do outro num relacionamento amoroso, como aponta Tannen (cf. 1987, 1996). Observamos que o ato de usar a escova era, para Linda, um ato de cumplicidade e, para o namorado, uma falta de higiene ou educação.

No diálogo com o ex-colega de escola, diferentemente, não há intimidade. É possível perceber que eles apenas estabelecem interação em locais públicos, como no bar. Dessa forma, o registro também é informal, pela própria situação de interação, mas psicologicamente eles compartilham informações mais gerais. É interessante notar a não disposição do personagem principal em prosseguir o diálogo: Beto pergunta sobre temas banais, típicos de quando se encontra um colega com o qual não se tem falado há algum tempo, e seu interlocutor não responde, ou responde de forma curta. Essas atitudes demonstram a falta de interesse, pois quando se quer estender a conversa, o falante explica com mais detalhes e também faz perguntas, incentivando a troca de turnos. Beto faz todas as perguntas, “puxando assunto”, como se diz, e por meio desses indícios, compreende que não há interesse por parte de seu colega, finalizando ele mesmo a interação.

3. ANÁLISE DAS MARCAS DA ORALIDADE NOS DIÁLOGOS

Inicialmente, destacamos o uso do pronome de tratamento tu, o qual se repete nos diálogos. É interessante notar que na região sul do Brasil, onde é ambientada a história, é muito comum esse uso. A peculiaridade do registro falado, como é bem retratada pelo autor, está no fato de o verbo não ser conjugado na pessoa tu (segunda pessoa do singular) e sim na terceira do singular (ele), mais identificado com você na oralidade corrente em muitas regiões. Assim, logo nas primeiras falas, temos “Tu andou usando […]” (l. 91), uso que demonstra essa tendência. Neste caso, o verbo andou seria conjugado, no padrão formal, para ele, e para tu seria conjugado andaste.

Podemos fazer algumas observações a respeito da recorrência desse uso na linguagem falada, destacando principalmente a “facilidade”, no momento da interação, de ativar os conhecimentos referentes às conjugações e pessoas verbais. Está claro que, na agilidade característica da fala, as pessoas optam por formas verbais mais comuns de se ouvir. Por um lado, “facilidade” pelo fato de exigir um conhecimento maior sobre as conjugações para que seja possível utilizar de maneira apropriada as conjugações de tu, por exemplo, as quais não são simples como as da terceira pessoa do singular: há maior variação, as terminações mais complexas. Na fala, andou (encurta-se ou em som de o fechado), tornou-se mais comum e fácil de recuperar na memória do que andaste (mais longo, menor encurtamento do som). Por outro lado, além da economia na pronúncia, devemos ressaltar a influência da comunidade na qual o falante está inserido sobre este. Caso a maioria significativa usasse a conjugação verbal de tu em diálogos corriqueiros, seria essa a forma mais recorrente. Assim como se pensarmos em outras regiões, onde se usa o pronome você, a conjugação da terceira pessoa do singular é a padrão. É possível ainda notar que a expressão usada pelo personagem (“Tu andou usando minha escova de dente?”) é típica da fala. Constantemente usa-se ‘andar fazendo algo’, com o sentido de ter feito algo, por exemplo ‘Tu tem usado… ’.

Esse uso destacado acima, o qual seja o pronome tu com o verbo conjugado na terceira pessoa do singular, pode ser encontrado em outras partes dos diálogos: “tu sabe” e “tu usou” (l. 92) e “tu tá” (l.153).

Há outras expressões da oralidade no decorrer dos diálogos, como citaremos a seguir. “Como é que é?” (l. 94), muito usado nas interações quando queremos mais explicações sobre algo que a outra pessoa acabou de dizer. “Sei lá” (l. 96) também é uma expressão típica da fala, para demonstrar a falta de explicação sobre algo, ou ainda falta de interesse. “Qual é a tua?” (l. 105), para questionar sobre a intenção do interlocutor. “como assim…” (l. 95) introduzindo uma pergunta. “Vamos no cinema” (l. 120), a regência verbal, na fala, é comumente trocada: em vez de ao, usa-se no.

Outra marca da oralidade são as contrações, as quais são muito presentes nos diálogos, mostrando em geral perda de vogais. Logo na primeira fala, encontramos: “dum” (l. 90), contração de de um; “pra” (l. 98-103), supressão do a de para; “tão” (l. 149), diminuição de estão; “Tou” (l. 149) em vez de estou; “né?” em vez de não é?; “tá” para está. Experimentamos na fala, de um modo geral no português do Brasil, as contrações. É recorrente diminuirmos os sons, independentemente do grau de escolaridade, idade, sexo ou região, em maior ou menor quantidade essas supressões estão presentes.

É importante notarmos a presença de expressões de baixo calão nos diálogos, característica bem marcadamente da linguagem dos jovens. Fazendo uma comparação, podemos perceber que há muitas gerações não era comum mulheres usarem expressões desse tipo, marcando mais a fala masculina. As mulheres tinham uma fala mais polida e “comportada”, dentro do que era o costume da comunidade de cada época, e os homens, em maior ou menor grau tinham uma fala mais “agressiva”. Dessa forma, ressaltamos nas falas aqui trabalhadas, características que representam a fala dos jovens nos fins dos anos 90 e início dos 2000 e, como um dos pontos mais significantes, a aproximação das falas de sujeitos de gêneros distintos.

Na primeira fala, masculina, encontramos a expressão “porra” (l. 90), muito usada ultimamente por falantes de diferentes idades. No entanto é expressivo seu uso por jovens, incluindo antes de algum elemento para enfatizá-lo, trocando-se por um substantivo ou ainda adjetivando algo, por exemplo. Na fala referida, o personagem usa porra para enfatizar seu descontentamento. Mais abaixo, a personagem feminina usa “droga”, demonstrando o uso de expressões de baixo calão também por mulheres. Notamos, porém, um peso menor na agressividade (porra é mais rude do que droga). Mais a frente a personagem usa uma palavra marcada (cf. Preti, 1984), “caralho” (l. 96), uma gíria originalmente de cunho sexual, mas nos dias de hoje também usada como uma interjeição, com diferentes conotações, dependendo da situação de comunicação. Neste caso, Linda está irritada pela insistência da pergunta do namorado. Algumas falas depois, o personagem usa “merda” (l. 103) para se referir à escova. Outro uso típico da fala informal, íntima, juntamente com os citados anteriormente. Usa-se merda quando se quer desqualificar algo, demonstrar irritação, por exemplo.

Ainda sobre a escolha do léxico, podemos destacar um caso interessante: um personagem, Beto, fala “ceva” (l.145) para cerveja. Esta é uma forma comum, encontrada entre jovens de diferentes décadas, ainda assim contemporâneos. Em São Paulo, nos dias de hoje, seria mais comum falar breja.

O uso das reticências é um recurso da linguagem escrita para indicar os silêncios dos personagens (ver l. 90 e 147). Essa falta de respostas mostra a não disposição do personagem para o diálogo. Frequentemente, quando um interlocutor não está disposto a prosseguir ou entrar na interlocução, ele deixa de responder ou faz gestos. No texto, podemos observar, no início, que Linda não quer responder ao questionamento do namorado, não entrando na discussão, enquanto ele reclama. Posteriormente, Beto tenta estabelecer um diálogo, mas seu amigo não está disposto, primeiro fazendo um gesto, levantando o copo, depois deixando no ar os comentários feitos (“Ah, ok. Mas vou tomar uma sozinho, então”, “Tou com saudade dela”), apenas respondendo brevemente (“Sim”, “jornalismo”) às perguntas diretas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As observações feitas anteriormente sobre os diálogos nos levam a algumas conclusões. Ressaltamos que, embora seja um corpus retirado de um texto literário e não uma fala gravada e transcrita e, ainda, não quantificada suas ocorrências, encontramos exemplos muitos próximos da linguagem falada.

De um ponto de vista social, há um grupo constituído nas interações: os três personagens fazem parte da mesma classe social, têm idades próximas e, aparentemente, o mesmo nível de escolaridade. Os diálogos são estabelecidos em situações cotidianas, fazendo com que o registro seja mais informal, tanto da interação com a namorada (embora mais íntimo) como com o colega.

Quanto às expressões típicas da oralidade destacadas na análise, podemos concluir que não são apenas de um grupo específico. Os falantes em geral usam essas expressões, formas contraídas, por exemplo. É mais característico da região Sul do país, como Porto Alegre, o emprego do pronome tu, marcando assim a variável geográfica (juntamente com o local de edição do livro). A questão da diferença de sexo foi uma constatação surpreendente: nos diálogos entre Linda e seu namorado, percebemos que os dois falavam palavras de baixo calão, por exemplo. Concluímos então que atualmente as falas de homens e mulheres estão muito próximas. Outros pontos poderiam ser levantados, mas os citados acima se mostraram mais significativos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GALERA, Daniel. Intimidade. In: Dentes Guardados. Porto Alegre: Livros do Mal, 2001. Edição digital [Kindle] disponível em: http://ranchocarne.org/#downloads, acessado em 5 de abril de 2014. Locations 88-163.

PRETI, Dino. A linguagem proibida: um estudo sobre a linguagem erótica. São Paulo: T. A. Queiroz, 1984.

PRETI, Dino. Inclusão e exclusão social pela linguagem: a gíria de grupo. In: Bentes, Anna Cristina; Leite, Marli Quadros (Orgs.). Linguística de texto e análise da conversação: panoramas das pesquisas no Brasil. São Paulo: Cortez, 2010.

TANNEN, Deborah. Gender and discourse. New York: Oxford University Press, 1996.

TANNEN, Deborah. That’s not what i meant!: how conversational style makes or breaks relationships. New York: Ballantine Books, 1987.

A RELIGIÃO VERDE

A RELIGIÃO VERDE

GREEN RELIGION

Sidney Vida

Advogado e professor universitário
UNIBR – Faculdade de São Vicente

E-mail: sidneyvida@gmail.com

Resumo

O presente trabalho faz uma leitura dos movimentos denominados “sustentabilidade” e “ecologismo”, referindo-os à doutrina da “luta de classes”, na qual este último desempenha o papel do “proletariado” e o primeiro, o dos “detentores do poder econômico”. Para tanto, recorre-se: a) à Economia, para descrever as características da Técnica (ou tecnologia) e das três fases; b) à Filosofia e à Teologia a fim de expor as características da inteligência do homem e sua relação com a religião; c) a autores que tratam da Sustentabilidade e Ecologismo, de modo a explicitar, por seus escritos, a substituição da racionalidade e objetividade pelo sentimentalismo e subjetividade, ou seja, da ciência pela religião onde o deus a ser adorado é a “Mãe-Terra”. Por fim, cita-se a “Carta da Terra”, pondo-se em destaque algumas de suas características principais, que corroboram o ponto de vista central deste trabalho, que os citados movimentos podem ser englobados sob a denominação “Religião Verde”.

Palavras-chave: meio-ambiente, sustentabilidade, política, economia e religião.

ABSTRACT

This work analyzes the movements called “sustainability” and “ecology”, making references to the “war of classes”, where this last item plays the proletariat’s role. The former items talk about the holders of economic power. For this, we use: a) economics, when are described the characteristics of technique (or technology) and its three phases; b) philosophy and theology to describe the man’s characteristics of inteligence and his relationship with religion; c) authors who write about sustainability and ecologism in a way that it’s possible to describe, using their texts, the substitution of rationality and objectivism for subjectivism and sentiment. The change from science to a religion where the adored god is the “Mother Earth”. In the end, it is cited the “Letter of Earth”, explaining some of its main characteristics that confirm the focus of this work, that the movements cited above could be called in a new “Green Religion”.

Keywords: environment, sustainability, politics, economics, religion.

INTRODUÇÃO

A relação entre o homem e o meio-ambiente foi descrita primeiramente por Santo Isidoro de Sevilha (560-616), o qual relacionou os padrões de conduta do homem ao clima. No terceiro quarto do séc. XIX, Haeckel (1834-1919) faz uso do termo “ecologia”, como a relação do organismo vivo com o meio ambiente; foi seguido por Ratzel (1844-1904) e Vidal de la Blanche (1845-1918), os quais também admitiram a relevância de tal relação.

De todos os seres vivos, o homem é o que mais interfere na natureza, tanto positivamente (protegendo-a de outros homens) quanto negativamente (destruindo algumas de suas partes). É ele que fornece ao conjunto de tudo quanto tem existência material algo imaterial: o conhecimento fundamentado das razões que comandam o existir das coisas, naturais ou não. Isto é assim porque o homem, ao mesmo tempo em que pertence à natureza – e por isso exige condições específicas para existir (assim como o sapo, que precisa viver em lugar úmido; o camelo, em lugar seco; o pinguim, em lugar frio, e assim por diante) – por outro, cria essas mesmas condições para garantir a própria vida, e vida confortável.

Assim sendo, o homem é materialmente produto do meio natural e transformador do meio natural. È a única espécie que tanto se adapta ao meio quanto adapta o meio a si. Por isso, é a única classe capaz de viver em toda extensão, latitude e longitude da terra. Assim, o pinguim, por natureza, nunca veria o camelo, caso não atuasse entre os dois a engenhosidade humana, criando zoológico com seções adaptadas a cada um desses animais. Somente o homem é capaz de viver no habitat do pinguim e do camelo, porque ou se adapta a ele ou o adapta a si – logo, é capaz de criar habitat no deserto para o pinguim e em regiões frias para o camelo.

A importância do meio ambiente não pode ser desprezada; e tanto não o é que, tão logo foram inventadas tecnologias com alto poder de destruição e poluência, e os efeitos de seu uso se tornaram manifestos, passaram a surgir os mais diversos grupos empenhados na defesa do meio ambiente e das criaturas que o compõem.

É de se lamentar que, no ardor dessa defesa, e considerando que a destruição e a poluição de vastas áreas do planeta são obras do homem, considerável parte desses grupos de início motivada por razões aceitáveis, tenha descambado para a pura e simples desvalorização do homem. Começaram por fazê-lo ao desprezarem o princípio de justiça que foi resumido pelas palavras “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Este princípio já tinha sido formulado de maneira extensa há 1200 anos – no tempo que dista de Moisés a Jesus. Com Moisés, estava contido nas “duas Tábuas da Lei”, a primeira relativa ao “direito divino”, quando se impõe, sob a forma de Direito Positivo, o imperativo de adorar, respeitar e amar a Deus sobre todas as coisas; e prossegue, na segunda, com o dever de respeitar e amar o próximo, começando pelos pais, passando pelos comunitários e chegando aos estranhos. Possui o senso da diferença e antítese entre o certo e errado, entre o bem e o mal. Em vista desta capacidade exclusivamente presente no homem, de agir segundo propósitos e imbuído do senso de distinção entre o certo e o errado, ele se sente o centro do universo, pois é a partir do ponto de referência estabelecido por sua inteligência que tudo se torna conhecido; entretanto, ele também

…é egocêntrico, no sentido de que seu impulso natural é tantar fazer o resto do Universo servir a seus próprios propósitos. Ao mesmo tempo, tem consciência de que, longe de ser o verdadeiro centro do Universo, ele próprio é efêmero e dispensável; e sua percepção consciente também lhe diz que, na medida em que ele dá vazão a seu egocentrismo. (TOYNBEE, 1987, p. 20)

O movimento ecologista é em si mesmo louvável, como o MST no Brasil; porém, tornou-se criticável pelos exageros a que chegou: começando pela defesa do legítimo direito de todos os cidadãos terem onde morar e do que viverem; em seguida, passou a comportar-se como grupo revolucionário, negando o direito de propriedade alheio, ao mesmo tempo afirmando o próprio, por meio de invasões de terras e depredação do patrimônio alheio. Tal movimento se transformou em instrumento político, no qual o apreço pela verdade e justiça fraqueja, uma vez que justiça é não reter nem tomar o que ao outro pertence por direito.

Nesse sentido, o direito divino e o direito do homem têm sido grandemente vilipendiados por tal movimento, uma vez que os grupos a ele vinculados manifestam um traço comum. Vale citar o caso de Barry Commoner, nascido em 1917, no Brooklin e também Ivan Illich, sacerdote apóstata:

[Barry Commoner] considerado um dos mais avançados ecologistas norte-americanos, em meio à crise do marxismo, redescobre o socialismo no sentido ecológico, apontando-o como fator primordial na luta pela proteção da natureza. O ecologismo como ideologia penetra até mesmo em certos setores da Igreja. Cabe lembrar, a propósito …[Ivan Illich]… figura cercada de certo mistério…autor de vários livros sobre temas ecológicos e fundador do Centro de Informações e Documentação (CIDOC), de Cuernavaca (México), foco ativíssimo da fermentação progressita e da teologia da libertação. (SOUSA, GARCIA, CARVALHO, 1988, p. 194)

Sem dúvida, estamos diante do (ou inserido no) fenômeno cujo nome dá título a este trabalho, “A Religião Verde”.

2. A TROCA DA BANDEIRA VERMELHA PELA BANDEIRA VERDE

Com a queda do muro de Berlim em 1989, as esquerdas do mundo inteiro tornaram-se órfãs de uma bandeira política única. Deste modo, a bandeira política tremulada pelos maiores genocidas do século passado, e por que não dizer de todos os tempos da humanidade – Lenin, Stalin, Pol Pot, Fidel Castro e tutti quanti – perdeu muito do seu sentido. Com a queda das ilusões comunistas/socialistas, as esquerdas buscaram desesperadamente uma nova bandeira para brandir e vibrar. Mudaram-se apenas as cores, do vermelho para o verde; trocou-se a fantasia de cada ator. Antes, a disputa era “pobres versus ricos”; agora, “ambientalistas versus capitalistas”; porém, os fins são os mesmos: o ataque direto à economia de mercado, ao capitalismo, ao Estado Democrático de Direito, às instituições hierárquicas como um todo (Constituição, Câmara dos Deputados, Senado, Poder Judiciário, Igreja, a qual ao longo de dois milênios ensinou uma moral a qual, sempre que foi obedecida, caracterizou homens empenhados em fazer o bem e afastar-se do mal).

Propõem um mundo futuro e melhor, sem, contudo, explicarem como pode ser melhor um mundo onde o status do homem é rebaixado, o da planta e dos animais elevado, estes ficando sob cuidadosa proteção da lei e aquele não.

2.1 TORNANDO-SE APRENDIZ DE FEITICEIRO

Quando o homem nega a ordem natural das coisas, por exemplo, que existe naturalmente uma hierarquia presidindo o existir das coisas, acaba por se tornar um aprendiz de feiticeiro o qual sucumbe vitima de forças por ele mesmo desencadeadas; pois quem diga que não existe hierarquia natural, que negue serem algumas coisas superiores a outras – como o homem em relação às demais espécies animais – abdica da razão confirmada por observação elementar. Assim: tome-se um ser humano qualquer. Caso se lhe corte o pé, será um ser humano manco; se lhe cortar o outro pé, será um ser humano impedido de locomover-se; se, além disso, cortarem-se-lhe as pernas, tornar-se-á um cadeirante; se, além disso, lhe cortarem os braços, um total inválido; no entanto, será o mesmo ser humano, todavia, incapacitado de deslocar-se localmente. Caso todos os seus órgãos sejam deixados intactos e seja apenas cortada sua cabeça, então morrerá, não será mais um ser humano, mas, sim, somente um cadáver. Isso demonstra a hierarquia natural naquilo que procede da natureza, como o corpo humano. Negá-lo é abdicar da inteligência, a qual é própria e exclusiva do homem.

Com a inteligência desfocada da realidade, impelidos a não perceber e admitir a realidade e sua natural hierarquia, não é pequeno o número dos que são dirigidos por bandeiras ideológicas; que afirmam a necessidade de se criar uma nova realidade, onde a vida do animal é mais importante que a do homem. Exemplo deste tipo de mentalidade é o ocorrido no dia 14 de novembro de 2011, no Zoológico Municipal de Sorocaba, no Estado de São Paulo: um mecânico, aparentemente embriagado, entrou no espaço reservado aos macacos, que o atacaram, mordendo-o no braço, ferindo-o bastante, a ponto de ele precisar de ajuda para ser retirado da água.

As coisas tomaram este rumo em razão da desvalorização do homem e a valorização, em seu lugar, do dinheiro e de outras espécies de animais. A valorização do dinheiro é própria da sustentabilidade, pois a ação a ser empreendida tem de ser “economicamente viável”; caso contrário, será inapelavelmente abortada. A valorização das espécies vegetais e animais acima do homem é própria do ecologismo, que opõe subjetividade e o sentimentalismo à objetividade e racionalismo da sustentabilidade, sobre o que passaremos a discorrer.

3. ECONOMIA E SUSTENTABILIDADE

Defendendo a noção de que o fator impactante e modificador da sociedade é o surgimento de novas técnicas, no que diverge de Marx o qual atribuía essas mesmas modificações à “luta de classes”, Santos refere a divisão da técnica em três fases: a eotécnica, a paliotécnica e a neotécnica, das quais diz que são

sucessivas, mas superpõem-se umas à outras; isto é, estamos hoje, nos países mais civilizados, na neotécnica, mas ainda perduram elementos da eotécnica e da paleotécnica.
Cada fase tem seus meios específicos de utilizar e gerar energias e suas formas especiais de produção. (SANTOS, 1962, p. 87)

A noção marxista de luta de classes insere-se no contexto da paleotécnica, inaugurada pela Revolução Industrial, ocorrida em meados do séc. XVIII na Inglaterra. Nesta fase, a filosofia predominante é a do “lucro imediato e desenfreado” diferenciando-se da eotécnica pelo fato de, nesta, o mecânico (ou a técnica) é qualitativo (predomínio do artesanato). Na paliotécnica, o predomínio é do mecânico quantitativo, na qual predomina “a destruição, o desperdício” não estranhando que no ápice desta fase a luta de classes tenha assumido proporções espantosas as quais levaram aos embates mais sangrentos os trabalhadores do mundo inteiro.

Contra os males desta fase surge a neotécnica, na qual os primeiros frutos espetaculares começaram a surgir

nos Estados Unidos, na Suécia, na Alemanha Oriental, na Noruega, na Holanda, na própria Inglaterra, etc. / Esta época, mais curta que a outra, está sendo substituída em muitos aspectos pela biotécnica, a fase prevista por Kropotkine, em que se dará a incorporação do orgânico ao mecânico…”, [pondo fim ao] espírito e às formas de vida e de exploração paleotécnicas. (SANTOS, 1962, p. 99)

pois deve-se ter em mente que

cada fase tem seus meios específicos de utilizar e gerar energias e suas formas especiais de produção. Finalmente, cada fase cria tipos particulares de trabalhadores, especializa-os de acordo com modalidades determinadas, estimula certas aptidões e atenua outras, e desenvolve certos aspectos da herança social. (SANTOS, 1962, p. 87)

A neotécnica caracteriza-se fundamentalmente pelo esforço do homem colocar a ciência a seu serviço, as máquinas a serviço do homem e não o contrário, como se deu na fase anterior, paleotécnica.

Uma vez que a Economia exibe suas características conforme a técnica, e as invenções do homem impactam a sociedade, compreende-se que a sustentabilidade é o convite a que o maior número possível de empresas e pessoas se engaje no esforço de eliminar das sociedades humanas os malefícios provocados pela paleotécnica e seu espírito predatório. Espírito este que acompanha o modo de produção de riqueza de tal período, caracterizado pela exploração interminável de recursos finitos que, para serem acessados, requerem o esburacamento da terra: petróleo, minas de ouro, de carvão e de outras riquezas minerais etc., o que inapelavelmente transforma o homem num apêndice (substituível) de máquinas. Noutras palavras, a definição mesma de sustentabilidade, utopia ou não, manifesta este espírito neotécnico e biotécnico, pois algo para ser sustentável tem de ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito. Dentre as razões que podem impedir o atendimento a tais critérios, podemos citar a “religião verde”, tema deste trabalho.

4. A INTELIGÊNCIA HUMANA E A RELIGIÃO

Assim se pronuncia Santo Tomás de Aquino sobre o nome religião, sua origem e acepções:

Há que dizer-se que, conforme escreve Santo Isidoro no livro Etimologia, chamamos religioso, palavra derivada, segundo disse Cícero, de reeleição, a quem revisa e como que relê o que diz respeito ao culto divino. Assim, pois, a palavra religião provém, segundo parece, de reler o que diz respeito ao culto divino, pelo fato de que a tais matérias há que dar-lhes muitas voltas em nosso interior, segundo nos é dito em Prov. 3, 6: Em todos os caminhos, pensa em Deus. Ainda que também se possa supor que tem esse nome devido a nossa obrigação de reeleger a Deus, a quem perdemos por negligência, como diz Santo Agostinho no Livro X de Cidade de Deus, cap. 7. Ou pode, assim mesmo, pensar-se que a palavra religião deriva de religar, e daí a frase de Santo Agostinho no livro Da verdadeira religião, cap. 8: A religião nos religa ao Deus único e onipotente. Pois bem, seja que a religião assim se chame pela repetida leitura, pela reeleição do que por negligência perdemos ou pela religação, o certo é que propriamente significa ordenamento a Deus. (AQUINO, ST, 2002, II-II, q.81, r)

O comentador desta parte da Suma, intitulada “Tratado da Religião” (q.80-100), Pedro Fernández Rodríguez, explica que “Dado que la religión es parte de la justicia, dice necesariamente relación a otro, y, en este caso, a Dios.”, ao que é válido acrescentar a observação que Deus, tal como a religião assim o entende, não raramente costuma ser substituído por algum ente portador de atributos como grande poder e inteligência, que o caracterizam como superior ao homem.

Verifica-se que o mesmo sentido de submissão (adoração ou outra atitude humana qualquer de subserviência) está implícito no pensamento de autores modernos, onde se lê que

assim como a célula constitui parte de um órgão, e cada órgão parte do corpo, assim cada ser vivo é parte de um ecossistema, como cada ecossistema é parte do sistema-Terra, que é parte do sistema-Cosmos. O sistema Gaia revela-se extremamente complexo e de profunda clarividência. Somente uma inteligência ordenadora seria capaz de calibrar todos esses fatores. Isso nos remete a uma Inteligência que excede em muito a nossa. Reconhecer tal fato é um ato de razão e não significa renúncia à nossa própria razão. Significa sim render-se humildemente a uma Inteligência mais sábia e soberana do que a nossa. (BOFF, 2009, p. 55-6)

com a diferença da mudança de nível daquilo que se adora, Deus no primeiro caso, e “Inteligência mais sábia” no segundo.

O mesmo tipo de raciocínio está presente entre os gregos, de quem herdamos a Filosofia, bem como nas demais civilizações antigas e extintas e mesmo na atual à qual pertencemos. Entendendo que por trás de toda regularidade há inteligência e algum tipo de poder, admiraram-se aqueles povos com a regularidade do movimento de corpos imensos, denominados “planetas”, porque deslocam-se regular e permanentemente num determinado “plano” e entenderam haver por trás deles elevadíssima inteligência dotada de poder imenso. Inteligência porque algo ou alguém definiu o itinerário (o plano no espaço) a ser seguido graças ao movimento regular de cada um dos corpos, ou seja, os planetas; poder porque, caso contrário, não haveria como fazer com que cada um respeitasse a sua órbita própria. Deram nomes a essas inteligências e as cultuaram, chamando-as Selene, Vênus, Marte, Apolo, Saturno e assim por diante.

Assim, invariavelmente ocorre que o homem, ao defrontar-se com algo transcendente, que ultrapassa sua capacidade de criar e agir, mas somente lhe é possível compreender, costuma render-se à atitude religiosa, de adoração e servidão. Isto é assim porque o homem é criatura dotada de intelecto autônomo, o que foi postulado por Platão e demonstrado por Aristóteles, podemos demonstrar tal autonomia do intelecto da seguinte maneira: é fácil observar que certos macacos utilizam-se de pedaço de pau para alcançar alimento de seu interesse. Além deste uso do pedaço de pau, usam-no para algumas outras finalidades, seja coçar-se, intimidar possível rival e assim por diante; entretanto o uso que fazem de tal instrumento restringe-se a uma pequena quantidade de funções. O homem, na posse do mesmo instrumento, usa-o para um indefinido número de funções, uma vez que seu intelecto lhe permite captar a intencionalidade possível do objeto (aquilo que com ele pode ser feito), ou os seus diversos e imprevisíveis encaixes no contexto atual ou futuro. Isto somente é possível porque a inteligência do homem lhe permite fazer abstração de si mesmo, permitindo-lhe mergulhar nas características do objeto, seja este inanimado ou animado.

Dessa forma, se manifesta a autonomia do intelecto do homem: ele “se separa” do próprio corpo, da própria afetividade (do indivíduo) e se coloca pela perspectiva do objeto que caia dentro de sua esfera de atenção, separação esta que não se verifica em nenhum outro animal diferente do homem.

Ao fazer esta operação, a inteligência do homem assume perspectiva (mental) totalmente impossível de ser vivenciada por ele física e concretamente. Assim é com os planetas, por exemplo. O homem, imaginando-se autor do itinerário a ser seguido por tais corpos enormes e distantes, compreende-se necessitado de, para mantê-los como são e onde estão, inteligência e poder incomensuráveis.

Uma vez que o fenômeno está lá, confirmado pelo sentido da visão, o telescópio só passou a ser usado sistematicamente como instrumento de observação astronômica por Galileu, no séc. XVI), aos antigos só restava fazer um enorme aporte de imaginação e chamar de “deuses” às causas das regularidades que viam.

Esta mesma autonomia do intelecto humano está na base do impulso religioso. Em face de alguma inteligência ou poder superior, é natural que o homem procure associar-se-lhe de modo a obter vantagem, proteção, poder. Por exemplo, uma instituição de ensino, como a UNIBR, associa ao seu nome o nome de outras instituições “de peso” para aumentar sua credibilidade pública, deste modo atraindo novos alunos e fidelizando os já inscritos. Igualmente, o homem, face a uma inteligência ou poder incomensuravelmente superiores ao seu, procurará estabelecer alguma maneira de agradá-la e, portanto, atrai-la para o seu lado – ou para colocar-se ao lado de tal inteligência poderosa – tornando-se então mais forte, mais inteligente e mais protegido.

É por meio da religião que o homem procede para associar-se ou “cooptar” o poder da inteligência superior; e o que caracteriza a religião é o sacrifício. Se não há sacrifício, não se trata de religião, portanto. O sacrifício é a ação física, concreta, por meio da qual o homem expressa formalmente seu desejo de associação com o que entende ser-lhe superior, como explica Santo Tomás de Aquino:

O culto a Deus deve ser prestado não somente com atos interiores, mas também com atos exteriores. “(…)”…o culto divino precisa usar de coisas corpóreas para que por elas, que são como sinais, a mente humana desperte para atos espirituais… a religião possui atos interiores que lhe pertencem, essencial e principalmente, e atos exteriores, que são secundários e ordenados para os atos interiores. (AQUINO, ST, 2002, II-II, q.81, a.7, r)

Este dado, o sacrifício, é elemento central e caracteriza a religião, razão porque nela se constitui uma casta de indivíduos responsáveis pelas formalidades ritualísticas e cerimoniais da prática sacrificial. “Qualquer coisa se aperfeiçoa quando se submete ao superior” (AQUINO, ST, 2002, II-II, q.81, a.7, r). Adorar, praticando atos exteriores, é fazer justamente isso, submeter-se ao superior. O que se justifica levando-se em conta a necessidade do espírito humano ser dirigido pelo sensível.

Tal premissa é aceita também modernamente, pois a entendemos como ato de razão e não renúncia à própria razão “… render-se humildemente a uma Inteligência mais sábia e soberana do que a nossa.” (BOFF, 2009, p. 56)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sustentabilidade e o ecologismo estão entre si assim como, segundo a doutrina da “luta de classes”, de Karl Marx, estão os detentores do poder econômico e o proletariado. Para a sustentabilidade, o que não for economicamente viável é empreendimento descartado; para o ecologismo, para dar-se o empreendimento importa somente que seja ecologicamente correto. Para este a primazia é dos animais e das plantas; para aquele, da economia.

O curso dos acontecimentos tem mostrado a prevalência e força psicológica do ecologismo, o qual se manifesta francamente oposto à sustentabilidade. Esta valoriza a ciência, a racionalidade e a objetividade e rejeita a religião; aquele valoriza a religião (bem entendido, a religião criada e proposta pelo próprio movimento e não alguma das outras de existência milenar) e rejeita a ciência, a racionalidade e a objetividade.

No meio dessas duas tendências em disputa, está a maioria dos seres humanos, quiçá alheia a essas questões e debates, embora sofrendo as consequências da prevalência de uma ou outra a cada momento. Uma das principais, se não a principal consequência desta disputa, é o rebaixamento do valor do homem, pois no plano do Direito: o crime ambiental é inafiançável, enquanto o homicídio é afiançável.

Este resultado não poderia ser diferente, uma vez que, em se tratando de religião, há sempre a necessidade do sacrifício, e a mais nobre vítima sacrificial sempre foi e é o homem.

Nesse sentido, trazendo à baila esta discussão, o trabalho tem por finalidade atuar como um alerta, aclarando cada parte em conflito e comparando-as com uma terceira, mais antiga e ainda presente no psiquismo de grande parte da população mundial, a fé cristã, com seu critério de justiça que eleva o homem a uma dignidade divina. É esta parte, a terceira mencionada, a que vai sendo progressivamente eliminada do contexto da vida humana das gerações atuais.

Que as pessoas capazes de agir eficientemente no momento histórico em que vivemos deem sua contribuição para restaurar a dignidade do homem. Este trabalho pretende ser uma contribuição com este processo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. 1. ed. São Paulo: Loyola, 2002.

Bíblia Sagrada. 39. ed. São Paulo: Paulinas, 1982.

BOFF, Leonardo. A Opção Terra – a Solução Para a Terra não Caiu do Céu. Rio de Janeiro: Record, 2009.

O Globo. Disponível em:
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/11/homem-invade-recinto-de-macacos-e-fica-ferido-em-zoo-de-sorocaba-sp.html.
Acesso em 14/11/2011.

SANTOS, Mário Ferreira dos. Tratado de Economia. T. I. São Paulo: Logos,1962.

SOUSA, José Pedro Galvão de. GARCIA, Clovis Lema; CARVALHO, José Fraga Teixeira. Dicionário de Política. São Paulo: T.A. Queiroz, 1988.

TOYNBEE, Arnold. A Humanidade e a Mãe Terra, uma história narrativa do mundo. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.

ALGUNS ASPECTOS DA INTERAÇÃO E FENÔMENOS DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

ALGUNS ASPECTOS DA INTERAÇÃO E FENÔMENOS DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

SOME ASPECTS OF THE INTERACTION AND THE LANGUAGE PHENOMENA IN DISTANCE EDUCATION

Prof. Hélio Rodrigues Júnior

Drndo. e Mestre em Língua Portuguesa pela PUC/SP
Professor da UNIBR-SãoVicente

E-mail: h-rodrigues-junior@uol.com.br

Resumo

Este artigo trata do fenômeno da comunicação humana, realizado nos chamados ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), perpassando pela ruptura dos modelos estabelecidos não nos aspectos pedagógicos, mas, nos linguísticos. Partindo do pressuposto de que, nesse espaço, a linguagem escrita do professor pode estimular procedimentos pedagógicos pertinentes para estabelecer interação, colaboração e autonomia, objetivamos estudar algumas ferramentas de comunicação em AVA, tomando como corpus as interações imprimidas entre tutor/professor/aluno na plataforma BlackBoard de um curso de especialização a distância. Fundamentamo-nos em preceitos teóricos de Brown & Levinson (1987), Kerbrat-Orecchioni (1998, 2002, 2005, 2006) e Leech (1983, 2005).

ABSTRACT

This article deals with the phenomenon of human communication, held in the so-called virtual learning environments (VLE), identifying by breaking the models established pedagogical aspects not, but in language. Assuming that, in this space, the written language teacher can stimulate teaching procedures relevant to establish interaction, collaboration and autonomy, endeavor to study some communication tools in VLE, taking as corpus interactions printed between tutor/teacher/student in platform BlackBoard a specialization course distance. Our theoretical precepts are of Brown & Levinson (1987), Kerbrat- Orecchioni (1998, 2002, 2005, 2006) and Leech (1983, 2005).

INTRODUÇÃO

A prática docente diferenciada no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) destaca-se nas palavras de Gomes (2001), quando o define como sendo

[…] o ambiente tecnológico no ciberespaço que permite o processo de ensino e aprendizagem através da mediação pedagógica entre alunos ou um grupo de alunos e o professor ou um grupo de professores, ou outros agentes geograficamente dispersos. Apresentam-se em forma de portais, banco de dados, bibliotecas virtuais, cursos a distância, museus ou outros. (GOMES, 2001, p. 25)

Somos remetidos, consequentemente, a um grande desafio educacional que é saber aproveitar esse espaço com qualidade e resultados efetivos no processo de ensino e aprendizagem que ora se amplia na modalidade a distância, visto, por Matos (2004, p.6), como “o grande cenário do futuro”, pois, o mundo está atravessando uma incalculável mudança em detrimento das tecnologias, podendo inserir quem ensina e quem aprende em um espaço virtual.

Modelos, convenções, arbitrariedades são impactados com a expansão desse ambiente: aquele professor que controla a sua aula com um discurso autoritário, aqui, deixa lugar para uma atmosfera colaborativa, ampliando o envolvimento dos atores do processo. Nesse sentido, a prática do professor em AVA deve imbricar-se para uma base linguística que priorize estratégias de interação eficientes, motivando o aluno a ser mais independente na construção do conhecimento e não apenas em reproduzir conceitos.

Para a realização desse processo educativo participativo e de qualidade, enfatizamos que a linguagem em AVA precisa considerar que a interação não ocorre face a face, mas por meio de sugestões visuais e estruturais em que o professor, por exemplo, orientará os alunos na satisfação do encontro do conhecimento.

Objetivamente, a questão que abordamos diz respeito a: Quais são as características da linguagem no AVA que garantem uma interação favorável à aprendizagem? Para avançar no tratamento, pretendemos estudar as principais ferramentas de comunicação em AVA, alicerçada em três componentes do contexto (o ambiente espaço-temporal, a finalidade e os participantes) e na polidez e na cortesia.

Nossas reflexões, por fim, norteiam-se acerca das especificidades do ambiente virtual e, principalmente, em Brown & Levinson (1987), Kerbrat-Orecchioni (1998, 2002, 2005, 2006) e Leech (1983, 2005), para tratarmos da interação verbal e suas características em AVA.

O AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM – AVA: um novo espaço de interação virtual

A Internet encerra uma grande porção do conhecimento humano que além de comportar informações científicas e culturais, é um excelente ambiente para conversar, estudar e pesquisar, criando novos espaços de troca e aprendizagem em comunidades virtuais. Denominada também como ambiente virtual, “é um espaço fecundo de significação onde seres humanos e objetos técnicos interagem, potencializando a construção de conhecimento”. (SANTOS, 2005, p. 91)

O professor, nessa nova perspectiva, deixa de ser o único detentor do conhecimento, redefinindo as práticas pedagógicas em situações de interação com quem aprende, afinal, no século XXI é impossível se pensar em um ensino baseado unicamente na aula expositiva.

Nessa esteira, professores e alunos interagem e passam a contar com mais um aparato que aumenta o poder de comunicação, remodelando e potencializando as velhas práticas docentes, possibilitando a criação de novas experiências nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), que são “instrumentos de colaboração e cooperação entre alunos e professores imbuídos de uma criação interativa” (Magdalena et alli, 2003, p. 63). É visto também como um espaço virtual de interação social em torno de uma informação específica; um local com a intenção de aprender e compartilhar ideias, onde pessoas se encontram por meio de tecnologia; um espaço inesgotável de significação para alunos e professores interagirem e construírem conhecimento.

Barbosa (2005, p.29) define esse ambiente como uma “forma de ampliar os espaços educacionais, proporcionando aos alunos o acesso à informação a qualquer tempo, independente dos limites impostos pelo espaço geográfico”, integrando e redimensionando uma infinidade de mídias e interfaces. Podem ser inseridos links e é composto por “programas on-line que ampliam o campo de possibilidade de ensino e de aprendizagem, apresentando-se como mais uma opção na paleta oferecida pelos programas presenciais ou de ensino a distância tradicional”. (HARASIM, 2005, p. 28)

Comunidades virtuais organizadas para fins específicos podem ser constituídas e para Harasim (2005, p. 30) os AVA “se baseiam na aprendizagem e no crescimento auto-dirigidos, obtidos por meio de informações, técnicas e conhecimento”, permitindo que várias fontes de informações e conhecimentos possam ser criadas e socializadas por intermédio de conteúdos apresentados de forma hipertextual, agregada de recursos de som e imagem. Alunos e professores, usuários do AVA, acessam esse conteúdo digital e aprendem, colaboram e interagem com os outros usuários do grupo.

Harasim (2005, p. 31) observa que “a interação através das redes ajuda a romper barreiras de comunicação e inibições que frequentemente asfixiam a troca aberta de ideias nas salas de aula tradicionais”. A interação num AVA ocorre de forma síncrona ou assíncrona. Entende-se por síncrona todas as ferramentas que possibilitam a comunicação do professor e do aluno no mesmo espaço de tempo, como o telefone, Chat, vídeo conferência, Web conferência. Por outro lado, entende-se por assíncrona a possibilidade de uso de recursos em diferente espaço de tempo, isto é, momentos em que professor e alunos não estão em aula ao mesmo tempo; e-mail e fórum são alguns exemplos.

Os usuários do AVA têm maior flexibilidade para determinar o horário e o dia em que vão se dedicar em suas atividades virtuais, pois afinal, o ambiente estará disponível 24 horas por dia, e, por isso, podem ser usados segundo a conveniência de quem o utiliza; e o diferencial de um AVA consiste no conjunto de atividades, estratégias e intervenções as quais ajudam usuários da ferramenta a construir e a transformar juntos a aprendizagem.

Os sujeitos que interagem no ambiente usufruem das informações disponíveis, podendo agregar mais informações extraídos de outros ambientes, e, em consequência, transformam suas experiências, as quais ficarão disponíveis a todos os participantes interativos do mesmo ambiente, propiciando a construção e reconstrução de conhecimentos por meio da interação entre professores, alunos e meio virtual.

Numa sala de aula virtual, os envolvidos (alunos e professor) expõem seus pensamentos, propõem discussões, estabelecem novas conexões, enfim, compartilham conhecimento. Todas essas ações ocorrem em diferentes horários e espaços, sendo que todo o conhecimento produzido é disponibilizado a todos os envolvidos participantes desta rede de conhecimento, em locais e horários distintos. Nesse ambiente, de conexões e conhecimentos, alunos e professores aprendem e colaboram, ganhando novos conhecimentos, conforme as contribuições vão sendo inseridas.
A sala de aula virtual, quando bem aplicada, contribui com a qualidade da educação, já que permite ampliar conexões linguísticas, geográficas e interpessoais. Linguística porque interage com muitos textos; geográfica porque pode ser acessada em inúmeros espaços e pode acessar infinitos espaços geograficamente distantes; e interpessoal porque tem o poder de comunicação com pessoas próximas e distantes, que não precisam estar necessariamente conectadas em tempo real.

O necessário nesses ambientes é a integração da comunidade que o utiliza. Os ambientes por si só são estáticos; o que os mantém são os professores e os alunos. Os professores são os responsáveis pela distribuição das tarefas, organização de exercícios e gerenciamento do ambiente. Os alunos colaboram agregando informações, realimentando e reconstruindo o conhecimento dentro deste ambiente. Em outros termos, o AVA possibilita o emprego de estratégias que podem proporcionar o envolvimento entre os interactantes, especificamente aquelas que estabelecem entre eles uma relação mais afetiva, promovendo um estudo mais prazeroso e motivador.

INTERAÇÃO E LINGUAGEM EM AVA: algumas representações do contexto, da polidez e da cortesia

A linguagem do discurso não é apenas o que foi chamado de “a arte da conversa” (Orecchioni, 2005, p. 190), mas a todos os elementos de comunicação que estão envolvidos no uso da palavra. Em sua obra, Kerbrat-Orecchioni (2005) fornece um resumo dos resultados sobre a teoria da interação, a estrutura da conversação (vez de falar, abrir e fechar) e os costumes de cortesia, evidenciando o estudo da polidez, tratada sob diferentes perspectivas como um fenômeno cognitivo (Escandell Vidal), de custo-beneficio (Leech) ou de preservação da face – face-work (Goffmann, Brown e Levinson, Kerbrat- Orecchioni), perspectiva aqui adotada.

Em seu artigo “La notion d’interaction em linguitique: origines, apports, bilan”, Kerbrat-Orecchioni (1998) comenta que parece “difícil argumentar”, que “falar é interagir”, que “a interação verbal é a realidade fundamental da língua”, e que não pode, por conseguinte, ter a esperança de compreender a verdadeira natureza da linguagem sem uma atenção cuidadosa e exigente dos meios que ela usa para alcançar suas comunicações.
Importante assinalar, assim, que a relação entre locutor e alocutário se constrói na e pela troca discursiva, em que os dois exercem entre si uma teia de influências múltiplas, marcando pela escrita, por exemplo, num ambiente de educação a distância, as intenções de cada um, permitindo uma gestão harmoniosa da relação interpessoal.

Observamos que essa interação verbal, como processo comunicativo, está fundamentada em três elementos do contexto: (i) o ambiente espaço temporal, (ii) a finalidade e (iii) os participantes, segundo Orecchioni (1998).

As páginas virtuais, podendo variar entre textos e hipertextos, ou até perpassarem por outras mídias, organizam o espaço informático, que consideram toda a situação de comunicação que circula no evento. Não podem negar estratégias destinadas à garantia da compreensão na interlocução e o AVA deve levar em conta recursos síncronos ou assíncronos, enfim, remete-nos tanto ao texto oral quanto ao escrito.

A finalidade da interação, aqui focada em AVA, reporta-se ao desenvolvimento do processo comunicativo, sendo negociada a todo o momento entre os interactantes, pois o que se quer dizer é definido pelo objetivo da atividade; o enunciador constrói o seu discurso percorrendo os objetivos tratados pelo curso do ambiente virtual. O aluno responde ao que foi colocado, cabendo a ele resolver algum problema, traçar alguma reflexão ou, ao menos levantar algum conceito, por exemplo. Essa atividade de interação é estreitada pelo escopo do ambiente de aprendizagem.

Por fim, o último elemento do contexto, os sujeitos da cena enunciativa, constitui o aspecto mais importante, já que são suas características que determinarão o tipo de interação que se organizará no espaço. O conhecimento que cada um abarca a respeito do objeto oferecerá, ou não, ao texto uma maior ou menor eficácia; quanto maior o saber partilhado, mais próximas serão as representações de sentido desejadas no ato de produção.

Ressaltamos, portanto, que a situação de comunicação, determinada pelo contexto, como já vimos, pode ser remodelada pelos interlocutores, o que nos leva a tratar do fenômeno da polidez e cortesia, pois o componente afetivo, o estrato emocional, desempenham no funcionamento das interações humanas um papel fundamental. Brown & Levinson (1987) discutem o fenômeno da polidez segundo o qual qualquer mensagem deve ser uma mistura cuidadosa de deferência e solidariedade e Kerbrat-Orecchioni (1998), resgatando-os, refere-se a “fórmulas”, sistematicamente, quais sejam:

Com a intenção de criar um paradigma geral, pelo qual estudos contrastivos, das estratégias pragmático-linguísticas, pudessem ser investigados, Leech (2005) lançou a ideia de um princípio comum da polidez. Apoiando-se nas máximas de Grice (1975), ele expandiu o chamado Princípio da Polidez (PP) numa série de seis máximas e duas submáximas cada uma e pretendia explicar como a polidez é usada na troca conversacional.

O PP foi criado em analogia ao Princípio Colaborativo de Grice (1975) e remete a um recorte observado no comportamento comunicativo humano, que nos influencia a evitar discordância ou ofensa comunicativa e a manter a concordância comunicativa, sendo que uma discordância comunicativa seria uma situação na qual duas pessoas (x e y) podem assumir, na base dos significados comunicados, objetivos mutuamente incompatíveis. Mas, tanto a discordância quanto à concordância são fenômenos escalares em termos de seu grau e significância (Leech 2005).

Para o autor, a função da polidez é estabelecer uma interação de relativa harmonia entre seus interactantes, usando-se as seguintes máximas:

A LINGUAGEM EM UM AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM

De um curso em AVA, sendo realizado na plataforma BlackBoard (BB), foram selecionadas mensagens dos fóruns que discutiram temas específicos, segundo a necessidade da turma, os objetivos do curso e atividade para a qual foi aberto.

Iniciamos apresentando, parcialmente, uma atividade proposta na unidade “Trocando Reflexões”, com o objetivo de utilizar o potencial de interatividade da ferramenta, além de possibilitar a construção do conhecimento sobre o tema em questão de forma colaborativa, em que o aluno, a partir das bases teóricas trabalhadas por meio de um texto de referência, unidade chamada de “Conhecendo a Teoria”, mostra seu ponto de vista centrado em uma questão motivadora, instigado a visualizar o todo com suas referidas particularidades.

Exemplo:

Vemos que professora e aluno, participantes do contexto, no exemplo, não se perceberam como indivíduos isolados, mas como membros de uma rede, cada um com tarefas institucionalmente diferentes. Mantiveram-se presentes e em constante interação assíncrona no fórum, sendo esse o espaço informático da situação comunicativa criada: ela propôs uma discussão inicial, buscando testar o conhecimento do aluno, e este, por sua vez, prontamente, postou a sua resposta ao que foi solicitado, em menos de 24 horas, numa tentativa de mostrar o que sabe.

A professora abre o fórum usando estratégia da polidez, em seu comportamento linguístico, ao tratar os alunos por “queridos (…)”, exagerando a simpatia por pessoas que ela nem conhece pessoalmente, revelando uma preocupação com a face alheia. No discurso do aluno, nos dois momentos, tanto na resposta quanto na intervenção, não encontramos esse tom cortês, pois nem ao menos cumprimenta a professora, ou seja, a sua interlocutora na situação, não minimizando um tom antipático.

Nos turnos dos interlocutores, o que se observa é uma gama de intenções comunicativas, agregadas em uma única elocução e que desembocam em uma mescla de estratégias de polidez e cortesia.

Na resposta do aluno 1, por exemplo, vemos que ele não se preocupa em fechar a aberta “Olá (…)” que a professora introduz, minimizando a importância da afetividade nesse espaço colaborativo de aprendizagem, porém, expressa sua maior preocupação em responder, cumprir a tarefa que lhe foi solicitada, dando ênfase à reprodução do conteúdo do curso em sua reflexão, às informações discorridas na parte teórica, apenas.

Observações como “Espero que estejam por aí (…)”, no mesmo turno introdutório da professora, é comum nesse meio porque não se tem contato visual e as contribuições precisam sempre aparecer na tela, caso contrário, não há como saber se o outro está acompanhando a conversa. Por isso, ela coloca indiretamente que os alunos participem quando deseja a eles “uma boa reflexão (…)” e a “todos !”, sem excluir ninguém, enfatizada pelo ponto de exclamação. Trata-se de uma característica de um discurso polido que, diretamente, corresponderia a algo do tipo: “nenhum aluno pode deixar de participar da atividade”, “a atividade tem que ser feita adequadamente ao que se propôs”. Os custos aos alunos, desta forma, são minimizados e a identidade do grupo delimitada.

Chama-nos a atenção, também, quando a professora, ao fazer um direcionamento tentando corrigir o rumo da discussão, tendo em vista que o debate não alcançou o êxito que esperava, atenua a ameaça à face dos alunos. Há o uso de outra estratégia de polidez por ela para mostrar, de forma indireta, que eles deveriam ser mais autônomos em relação ao que tinha solicitado: “Mas o que vocês acham de tentarmos considerar um pouco mais o que pensamos quanto ao que é importante para a organização de um curso em AVA e associarmos uma justificativa para cada escolha? Gostaria disso (…)”. A imposição da autoridade do professor fica assim minimizada, estimulando a continuidade da participação dos alunos para o aprofundamento da discussão, deixando de lado perguntas retóricas.

Quando a professora, nessa intervenção ao debate, indiretamente encaminha o grupo à adequação do que foi proposto, ela procura abrandar a advertência do seu enunciado “Mas o que vocês acham de tentarmos considerar um pouco mais (…)”, evitando ir diretamente ao encontro da face negativa do grupo.

Busca, assim, ampliar o discernimento do aluno com uma nova pergunta à reflexão e, em nenhum momento, agredindo, depreciando o outro, fixando-se na esteira da generosidade, ao maximizar a interação dos alunos quando parabenizou com um “Ótimo (…)”. Lança mão, portanto, de estratégias de polidez positiva, ao concordar com o que estava sendo exposto no debate e com a aprovação dele, numa ênfase: “A nossa discussão está muito boa mesmo (…)”.

Na resposta à intervenção da professora, o aluno manteve o mesmo comportamento linguístico, sem se preocupar com um discurso cortês e polido; apenas tentando cumprir o propósito da atividade. Além de ter ameaçado sua própria face, ao declarar que não dominava o assunto da aula “Apesar de não ter compreendido o suficiente (…)”, desprestigiando a importância do fórum, sem se preocupar com o interesse do grupo e com a sua imagem “Apesar de (…)”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo principal do trabalho foi estudar as principais ferramentas de comunicação em AVA, alicerçada nos elementos do contexto (o ambiente espaço- temporal, a finalidade e os participantes), na polidez e na cortesia, seguindo a esteira de Kerbrat-Orecchioni, o modelo de Brown e Levinson e o aparato de Leech, confirmando o caráter interacional da linguagem nesse espaço virtual.

Os aspectos situacionais, em que são envolvidos quem fala, o que fala, para quem fala, em que circunstância, quais as relações entre o grupo, por exemplo, no emaranhado de interações no diálogo virtual, exigem recursos linguísticos que favoreçam a relação interpessoal entre professores e alunos.

No contexto da sala de aula virtual, assíncrono, também ocorrem como no ensino presencial, situações tensas e comprometedoras da interação, ainda mais levando em conta que professor e aluno interagem sem compartilharem o mesmo espaço físico e temporal, relacionando-se pelo texto escrito, sendo novo para muitos alunos, decorrem mal- entendidos, tensões e conflitos.

Na outra via, o professor antecipando essa possibilidade, utiliza significativas estratégias de polidez para conduzir a interação e evitar hostilidades, manifestando discordâncias quando necessário, mas procurando sempre colaborar para manter um cenário propício à aprendizagem, em situações de grande vulnerabilidade para os alunos.

A polidez constitui-se como fenômeno da linguagem, delineando os eventos da comunicação dos interactantes, responsável pela organização do comportamento linguístico deles. Seu uso permite a elaboração de alguns recursos como demonstrar interesse pelo outro, preferidas mais na abertura, outras, como propor, sugerir, mais no desenvolvimento e aquelas como agradecer e justificar, mais no fechamento das atividades. Evidentemente, que essa ordem pode variar.

Ressaltamos que esta pesquisa não tem caráter definitivo, sendo sugestões deposteriores análises mais aprofundadas, com um maior número de dados a serem verificados. Os resultados obtidos nos oferecem, porém, uma visão significativa dos aspectos da linguagem em ambientes virtuais de aprendizagem, uma vez que mostrou a importância da polidez e da cortesia para o alcance dos objetivos na conversação digital.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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O PAPEL DA NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM NA LOGÍSTICA NACIONAL: ASPECTOS INSTITUCIONAIS

O PAPEL DA NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM NA LOGÍSTICA NACIONAL: ASPECTOS INSTITUCIONAIS

THE INFLUENCE OF CABOTAGE NAVIGATION AT INTERNATIONAL LOGISTIC – INSTITUTIONAL ASPECTS

Profª Gisele Pereira de Souza

MBA em Logística Nacional e Internacional UNIMONTE
Professora da UNIBR

E-mail: Gisele.Souza@aliança.com.br

Resumo

O presente estudo versa sobre o transporte marítimo de cabotagem. Procura oferecer uma contribuição para identificação dos fatores que possam melhorar a eficiência do transporte marítimo. As informações foram obtidas por meio de pesquisa bibliográfica sobre a viabilidade do setor. Tem como objetivo apresentar as principais características e a importância que o transporte de cabotagem possui no comércio de importação e exportação, assim como a necessidade de investir no setor. O estudo também analisa o uso do contêiner na cabotagem em cargas de valor agregado e as questões institucionais da cabotagem como a relativa ao preço do combustível, ao registro de bandeira Registro Especial Brasileiro – REB, à mão-de-obra e ao financiamento do Banco Nacional do Desenvolvimento – BNDES para construção naval. Indiscutivelmente, para o Brasil é fundamental dispor de um transporte marítimo de cabotagem eficiente e econômico; para tanto, é indispensável a adoção de planejamento estratégico e políticas públicas com medidas objetivas, que corrijam as distorções existentes e que priorizem o Transporte Marítimo de Cabotagem. Pode-se concluir que a Cabotagem é uma alternativa viável para compor a cadeia de suprimentos de diversos setores, contribuindo de maneira significativa na preservação ambiental, transferindo a demanda de transporte de cargas terrestres para o marítimo, ajudando a reduzir os níveis de poluição no planeta.

Palavras-chave: Comércio exterior, Transporte marítimo. Transporte de cabotagem

ABSTRACT

The present study deals with the Short Sea Shipping, it seeks to offer a contribution to identifying factors that can improve efficiency shipping. Information was obtained through literature research on the viability of the sector, aims to present the main characteristics and the importance that coastal shipping has the import and export trade, as well as the need to invest in the sector. The study also examines the use of container in coastal loads of added value and institutional issues such as cabotage on the price of fuel, the registration flag Special Brazilian Registry – REB, the manpower and funding of the Bank national Development – BNDES for shipbuilding.
Arguably, for Brazil is essential to have a maritime cabotage efficient and economical to do so, it is essential to the adoption of strategic planning and public policy with objective measures to correct existing distortions that prioritize Shipping Cabotage. It can be concluded that the Cabotage is a viable alternative to make up the supply chain of many industries, contributing significantly in environmental preservation, transferring the demand for cargo transportation by sea to the land, helping to reduce levels of pollution on the planet.

Key-words: Foreign Trade, Shipping. Short Sea Shipping

INTRODUÇÃO

No Brasil, segundo CNT (2006), a navegação de cabotagem é a navegação doméstica, de porto a porto ou porto marítimo e um fluvial, em uma mesma costa. Ono (2001), ao mencionar que a costa brasileira com mais de 7.500 km de extensão, com portos relativamente em estado adequado de operação, com as principais cidades, polos industriais e centros consumidores localizados a 500 km do litoral afirma que essa condição torna a navegação de cabotagem uma alternativa para o transporte de cargas.

Ao longo dos anos, principalmente, depois da Segunda Guerra Mundial, grande parte das cargas típicas para o transporte de cabotagem foi transferida para o modal rodoviário, que apresenta uma infraestrutura desenvolvida e grande oferta de prestadores de serviços.

O Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT) aponta que em 2007, o modal rodoviário respondia por 58% da produção nacional de transporte de cargas medida em tkmu. (BRASIL, 2007b).

Carvalho (2009) menciona que com a Lei de Modernização dos Portos (Lei nº 8630/93) e a estabilização monetária brasileira a partir de 1999 configuraram um cenário mais propício para as empresas de navegação investirem novamente no setor de cabotagem marítima.

O objetivo desse artigo é abordar o transporte de cabotagem, identificando sua participação e evolução no serviço de transporte de contêineres na movimentação entre centros e capitais e, mais especificamente as condições institucionais, fiscais e de regulamentação. Dessa forma, analisa-se o desenvolvimento e o papel da cabotagem na movimentação de mercadorias no transporte doméstico do Brasil.

O estudo analisa as questões institucionais da cabotagem como a relativa ao preço do combustível, ao registro de bandeira Registro Especial Brasileiro – REB e à mão-de-obra na cabotagem.

Dessa forma, identificam-se seus impactos no desenvolvimento e investimento na cabotagem que enfrenta concorrência feroz e agressiva do modal rodoviário, apresentando-se, ainda as perspectivas futuras da cabotagem Brasileira considerando-se o PNLT.

1. CABOTAGEM NO BRASIL

Para Robles (2008), o transporte é vital para a economia, pois impacta diretamente no custo do produto, citando como exemplo, o rodízio de caminhões implantado na cidade de São Paulo, em julho de 2008, que levou a uma quebra da integração logística, como conseqüência, o comércio teve que estocar um volume maior de mercadorias, acarretando custos de estocagem de materiais, que automaticamente foi repassado ao valor final do produto.

Carvalho (2009) aponta que no início do Século XX, com a malha ferroviária mais concentrada no Sudeste e transporte por estradas de rodagem praticamente inexistente, o Brasil chegou a ter um importante sistema de navegação de cabotagem, ligando Santos e o Rio de Janeiro aos portos do Nordeste e do Norte do País. Com o passar do tempo, porém, os caminhões absorveram quase todo o movimento de cargas interurbanas.

Segundo Rodrigo (2012) há 225 embarcações de cabotagem no país, operadas por 65 empresas e com capacidade para transportar mais de três milhões de toneladas de cargas. A maior parte das embarcações é de propriedade das próprias empresas (185), e 18% são afretadas de outra companhia. Boa parte delas trabalha para si.

Nos dois últimos dois anos, o aumento do volume de cargas transportadas por cabotagem representa um aumento de 1,96% em relação as movimentações nesse modal em 2010.

Nota-se um aumento de 1,96% em relação às 130,708 milhões de toneladas trafegadas em 2010. Dos números de 2011, 76,74% referem-se a combustíveis e óleos minerais (102,270 milhões de toneladas), seguidas da bauxita (14,813 milhões de toneladas). (Anuário Estatístico Aquaviário – Antaq 2011)

Fonte: Anuário Estatístico Aquaviário – Antaq 2011.

Em 2011, foram embarcadas (exportação) no Brasil 514.740 mil toneladas de mercadorias com destino ao exterior, 5,1% a mais que no ano anterior. Já o desembarque (importação) de mercadorias de longo curso foi de 143.347 mil toneladas, o que representou um crescimento de 13% em relação a 2010.

Já a análise das importações indica uma distribuição mais uniforme entre os tipos de cargas desembarcadas no Brasil. No comparativo 2010×2011, ocorreu um crescimento da tonelagem de granéis sólidos (21,7%), de carga geral conteinerizada (16,7%) e de granéis líquidos (7,6%) provenientes de outros países. Houve decréscimo no desembarque de carga geral solta (- 32%). (Anuário Estatístico Aquaviário – Antaq 2011)

Percebe-se, portanto, a existência de uma estrutura para o desenvolvimento da cabotagem, que poderia ter um crescimento bem mais expressivo ao se atentar para o potencial da navegação como fator de redução de custos e aumento da competitividade dos produtos, principalmente no transporte de contêineres.

2. BARREIRAS AO DESENVOLVIMENTO DA CABOTAGEM

Dias (2009) afirma que os estaleiros nacionais, não são capazes de atenderem, no curto prazo, as encomendas provenientes da cabotagem, devido ao elevado índice de ocupação com a demanda do setor do petróleo, do offshore e do apoio marítimo, Em relação aos efeitos dessa restrição da oferta da construção naval no Brasil ao setor de navegação de cabotagem, resulta em:
• Dificuldades impostas à aquisição e afretamento de navios no estrangeiro, gerando uma blindagem à competição e ao acesso à atividade;
• Medidas ineficazes de proteção e incentivo às empresas de navegação, como o Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), pois o imediato aumento da oferta de transporte de cabotagem não depende de financiamento público, depende muito mais de acesso a navios no exterior com preços convidativos;
• Desequilíbrio entre os benefícios outorgados pela reserva de bandeira e a obrigação de atendimento às necessidades de transporte dos usuários.

As normas reguladoras chegam a ser mais restritivas do que o texto da lei, e prejudicam simultaneamente tanto as empresas de navegação quanto os embarcadores, sem maior contribuição para o fortalecimento da construção naval. (DIAS, 2009. p 10)

Lacerda (2004) aponta como desvantagens da cabotagem: falta de política governamental para o desenvolvimento do sistema hidroviário brasileiro; longas distâncias dos portos aos centros de produção; menor flexibilidade; menor velocidade de transporte; restrições de acesso marítimo e terrestre (rodoviário e ferroviário); e restrições aos calados de navios.

Pierdomenico (2009) também pondera que o desenvolvimento da cabotagem, apresenta como barreiras:
• Facilidades da utilização do transporte rodoviário de cargas;
• Complicações tributárias no uso do transporte intermodal;
• Falta de reconhecimento da redução de riscos que poderia refletir na redução dos custos de seguro;
• Processos burocráticos, inclusive aduaneiros para a cabotagem.

Para Lanchmann e Castro Jr. (2009), apud Carvalho (2009), a sobrecarga nos tributos e a burocracia são os principais impeditivos ao desenvolvimento da cabotagem, principalmente ao se comparar outros países, como Japão e Estados Unidos, onde há isenção dos impostos sobre: o frete (PIS 20, COFINS 21 e ICMS 22): no Brasil é aplicado 14,48% sobre o valor do frete com destinos a regiões do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Espírito Santo. E nos demais destinos 19,84%;

Segundo Carvalho (2010), outra questão importante refere-se a folha de pagamento dos marítimos: no Brasil os valores de INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) representam 39,7% sobre a folha de pagamento. Além disso, aponta a autora, outro grande entrave é a questão do combustível, ou seja, no Brasil sobre o óleo diesel marítimo (MGO – Marine Gasoil) há incidência de ICMS e CIDE23, e sobre o IFO – Intermediate Fuel Oi há a incidência de ICMS, o que totaliza em média 40% a 50% de tributos sobre os combustíveis.

A seguir, se apresenta esses itens de restrição que compõem o objeto deste estudo: as questões relativas ao combustível, registro de bandeira, mão-de-obra marítima e o financiamento do BNDES para construção, consideradas entraves ao desenvolvimento deste importante modal.

2.1 A COMPLEXA QUESTÃO DO COMBUSTÍVEL NA CABOTAGEM

Carvalho (2010) considera a questão do combustível na cabotagem como merecedora de discussão mais ampla, pois, no Brasil sobre o óleo diesel marítimo (MGO – Marine Gasoil) há incidência de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (CIDE) e sobre o IFO – Intermediate Fuel Oil há a incidência de ICMS, o que totaliza em média 40% a 50% de tributos sobre os combustíveis.

O Diretor Executivo da Hamburg Süd, Julian Thomas, considera que a Cabotagem tem muito a crescer no país, mas esbarra nos preços dos combustíveis. “O que mais pesa no custo operacional é realmente o combustível, cerca de 60%. Para navegação o preço de referência é cotado em Roterdã e uma tonelada de bunker chega a US$ 690, o maior da história”, e recorda que, em 2009, no auge da crise econômica mundial, o combustível era cotado a US$ 450/t. (MACHADO, 2012)

Além disso, aponta o executivo, “no caminho inverso, o caminhão tem o diesel subsidiado pelo Governo Federal” e acrescenta “Hoje, o preço do combustível é de cerca de R$ 2/l .” (CINTRA. 2012).

Para Fernando Real, presidente da Maestra

O principal entrave é o bunker, o combustível de navegação. Armadores estrangeiros abastecem no Brasil sem pagar imposto. De acordo com ele, as empresas brasileiras pagam PIS/Cofins de 9,25 % e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) dos Estados. “O setor quer isonomia no longo curso”, (MARCONDES, 2012. p 4)

Roberto Rodrigues, executivo da Mercosul Line, aponta que o preço do bunker, fornecido pela Petrobras, segue os padrões internacionais.

Isso é um desafio, porque o combustível representa de 20 a 30% do nosso custo operacional.(MARCONDES, 2012. p 4)

O preço do combustível e o tratamento relativo ao combustível nacional configuram-se como fatores que oneram a operação de cabotagem, comprometendo o crescimento do setor e suas condições de competição relativamente aos caminhões, cujo custo do combustível é mais barato.

A seguir, apresentam-se alguns exemplos das práticas de proteção a navegação de cabotagem.

2.2. REGISTRO DE PROPRIEDADE DOS NAVIOS

No alto-mar nenhum Estado exerce soberania, por esta razão foi criada a nacionalidade dos navios, com o objetivo de proteção, assim o Estado que a concede, torna-se responsável pela proteção das embarcações, as quais por sua vez, ficam sujeitas às leis desse Estado.

Raphael (2003) aponta que o registro da propriedade determina sua nacionalidade, habilitando-os a hastear a bandeira do Estado de Registro, além de ter a proteção no alto-mar.

O navio navegará sob a bandeira de somente um Estado e, salvo em casos expressamente previstos em Tratados Internacionais ou em Convenções estará sujeito à sua exclusiva jurisdição quando em alto-mar. Um navio não pode mudar sua bandeira durante a viagem ou quando num porto de escala, salvo no caso de uma real transferência de propriedade ou mudança de registro. (RAPHAEL, 2003. p. 42).

Isso quer dizer que um navio que navega sob bandeira de dois ou mais Estados, não pode alegar qualquer das nacionalidades podendo até mesmo ser considerado sem nacionalidade ou ser confundido com um navio pirata.

É qualidade essencial para o navio poder gozar de proteção em alto-mar e das vantagens inerente à nacionalidade. A prova da nacionalidade é o direito do navio de navegar arvorando a bandeira do país que a concedeu. Recebendo a nacionalidade, o navio passa a ser considerado um domínio do país que a concedeu. (RAPHAEL, 2003 p. 40).

Moura (2009) menciona que os registros das embarcações podem ser classificados em Registros Nacionais e Registros Abertos. Nos registros nacionais é o Estado que concede a bandeira. Importante salientar que o navio é uma extensão do território de um Estado, significando que mesmo se encontrando no território de outro Estado, as pessoas a bordo estão sujeitas às leis do país cuja bandeira o navio está hasteando, mesmo que este esteja atracado. Isso vale para eventos como: nascimentos, mortes e casamentos.

2.2.1. REGISTRO ABERTOS DE BANDEIRA DE CONVENIÊNCIA – BDC

Martins (2005) cita que os registros abertos de conveniência são caracterizados pela facilidade em se realizar o registro, pelos incentivos fiscais, pela não imposição de vínculo entre o Estado de registro e o navio, pela flexibilidade na fiscalização das embarcações neles registradas, pela legislação menos severa no que diz respeito à segurança e equipamento a bordo, não sendo necessário vínculo entre o Estado de Registro e o Navio. Os registros abertos podem ser classificados em: segundo registro e em bandeira de conveniência.

2.2.2. REGISTRO ESPECIAL BRASILEIRO – REB

O Brasil, atento às tendências internacionais quanto à necessidade de urgência nos trâmites burocráticos do registro elaborou uma espécie de registro especial que possui por objetivo expandir o seu poderio econômico no que se refere ao comércio internacional pelo modal marítimo. O REB (Registro Especial Brasileiro) instituído em 1997 pela Lei 9.432/97 e regulamentado pelo Decreto N. 2.256/97. Com esse ato, o país colabora para o combate às bandeiras de conveniência.

No Brasil, para a embarcação adquirir a nacionalidade brasileira, o proprietário, se pessoa física, deverá ser residente e domiciliado no Brasil, além de dois terços da tripulação ter de ser brasileiros. Dentre os direitos e privilégios da nacionalidade brasileira estão: a navegação de cabotagem; auxílio financeiro junto ao BNDES e reserva de carga (no caso de cargas especiais que devem ser carregadas por navios brasileiros).

A seguir, apresentam- se as particularidades da relação de emprego dos trabalhadores marítimos.

2.3. RELAÇÕES EMPREGATÍCIAS NAS EMBARCAÇÕES DE TRANSPORTE MARÍTIMO

Carvalho (2010) aponta que o trabalho marítimo é realizado, exclusivamente, a bordo, na execução de serviços afetos à navegação e à manutenção das embarcações que, de acordo com o porte, tipo de navegação, potência das máquinas etc. devem ter uma quantidade mínima obrigatória de tripulantes habilitados em cada função para serem conduzidas com segurança, segundo as normas da autoridade marítima, que é exercida pela Marinha do Brasil por meio da Diretoria de Portos e Costa.

Os trabalhadores marítimos mereceram atenção especial, desde a fundação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a ponto de terem sido contemplados com uma das primeiras convenções formuladas por esse organismo – a Convenção Nº 7 de 1920, ao estabelecer a idade mínima para o trabalho no mar. Com o decorrer dos anos, outras convenções passaram a disciplinar vários direitos para os marítimos ou “a gente do mar”, como a OIT os denomina. São exemplos, entre outras:
• Convenção 146 (férias);Convenção 163 (bem-estar no mar e no porto);
• Convenção 164 (proteção à saúde e assistência médica);
• Convenção 166 (repatriamento);
• Convenção 14 7 (Normas mínimas da marinha mercante);
• Convenção 178 (trata da inspeção das condições de vida e de trabalho a bordo). (CARVALHO, 2008 p. 1)

A Convenção nº 186 em 2006 unificou todos os padrões necessários para garantir condições mínimas aos marítimos. A “Declaração de Direitos” ou Convenção sobre o Trabalho Marítimo (MLC) trouxe como pontos principais:
• Garantias decentes de trabalho a bordo e condições de vida devendo ser assinada por ambos os marítimos e armador, ou um representante do armador;
• Um salário mensal, pago em plena conformidade com o acordo de trabalho ou qualquer outro contrato de trabalho coletivo aplicável. Sendo 14 horas limite de trabalho no período de 24 horas e 72 horas no período de sete dias;
• Os proprietários devem pagar as despesas de repatriamento dos marítimos em caso de doença, acidente, naufrágio de insolvência, a venda do navio, etc. (CARVALHO, 2008. p 3)

Os requisitos específicos da infraestrutura de alojamento e áreas de lazer e, especificamente, um tamanho mínimo das cabines e um sistema de aquecimento, ventilação e satisfatórias de saneamento, iluminação e infraestrutura médica e Acesso rápido aos cuidados médicos a bordo e nos portos (CARVALHO, 2008 p. 5)

Em síntese: a relação dos trabalhadores marítimos com o armador é de emprego, como preconizado pelo Artigo 3º da Consolidação das Leis Trabalho CLT – Decreto Lei nº 5.452 de 01 de Maio de 1943

Art. 3º – Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.
Parágrafo único – Não haverá distinções relativas à espécie de emprego e à condição de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, técnico e manual. (CARVALHO, 2008 p. 5)

Ou seja, ele põe sua força de trabalho à disposição, de forma não-eventual, mediante remuneração e subordinação. Assim, não há margem para outra forma de contratação de marítimos que não seja a regida pela CLT, principal diploma legal a reger as relações de emprego no Brasil e que define no Artigo nº 442, o contrato de trabalho como o acordo tácito ou expresso correspondente à relação de emprego.

Quando embarcado em navios estrangeiros, o contrato de trabalho (engajamento) do marítimo, normalmente, é regido pelas leis do país da bandeira da embarcação (CARVALHO.2010. p 1)

A questão da contratação da mão-de-obra da navegação não constituí um impeditivo à evolução da cabotagem, pois, contratação dos marítimos é regida pela CLT que rege a convenção trabalhistas de todas as categorias caracterizando a relação normal de emprego entre armador e categoria.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É unanimidade entre os empresários do setor naval que o transporte de cabotagem tem grande potencial de crescimento. O transporte rodoviário, apesar de suas vantagens, se ressente das condições precárias das rodovias nacionais; acidentes, roubos e avarias de cargas e poluição induzem a que muitas empresas considerem o modal.

Em declaração à Revista Multilogística (2007) José Balau sintetiza:

se fosse investido mais em cabotagem, ganhariam todos os envolvidos no processo: o cliente, que teria ganhos em relação a avarias e roubos de mercadorias,os armadores, que estariam gerando mais receitas e o Brasil que, além de crescimento econômico, teria condições de tirar milhares de caminhões das estradas.(Revista Multilogístia.2007 .Editorial)

O PNLT – Plano Nacional de Logística Portuária projeta para 2025 a Matriz de Transporte Brasileira, com 33% Rodoviário, 32% Ferroviário, 29% Aquaviário, 1% Aéreo e 5% Dutoviário.

O atendimento a essas metas, todavia, dependerá, conforme apontam executivos do setor, dos seguintes fatores:
• Suspensão temporária do imposto de importação para navios novos construídos em estaleiros estrangeiros;
• Revisão das normas reguladoras do afretamento de navios para a navegação de Cabotagem, corrigindo alguns pontos crítico;
• Reavaliação da política de tratamento fiscal diferenciado das empresas de navegação e os subsídios à construção de navios.

Segundo Carvalho (2010), no Brasil se apresenta um modelo multimodal de transporte que permite, uma vez funcionando plenamente, reduzir custos, agilizar o envio dos produtos e reduzir o nível de risco de algumas cargas, entre outros benefícios. Mudanças na matriz de transporte vêm ocorrendo e alguns setores de atividade econômica já utilizam diversos modais.

A fabricação de novos navios e sua utilização no transporte de Cabotagem, assim como o aumento da frequência de rotas atendidas , tendem a reduzir os empecilhos que hoje existem na utilização deste modal via costa brasileira.

Por sua vez, o crescimento do comércio internacional brasileiro traz consigo perspectivas de implantação de portos concentradores, os quais intensificariam o uso de operações de transbordo. Poucos portos nacionais se especializariam nas operações de exportação e importação, e com isso a distribuição desses produtos ao longo da costa brasileira ficaria sob a responsabilidade do sistema de Cabotagem.

Apesar do setor demonstrar tendência de crescimento, ainda se faz necessário transpor as inúmeras barreiras que se mostram de difícil resolução, principalmente no curto prazo, tais como: baixa produtividade de alguns portos; elevados percentuais de encargos sociais; burocracia pública; carência de navios e de contêineres para a Cabotagem; a complexa questão do combustível e as questões de navios REB, conforme mencionado anteriormente.

Quanto mais empresas passarem a utilizar a Cabotagem, maior a necessidade de linhas de transporte e, consequentemente, maior a regularidade e a confiabilidade do serviço. Além disso, a Cabotagem é menos poluente do que o modal rodoviário, o que em tempos de conscientização ambiental é, certamente, uma alternativa ecologicamente correta.

Para que o transporte de cabotagem possa crescer e se sustentar, é preciso criar e colocar em prática leis que garantam maior agilidade e eficiência nos portos e que incentivem a maior utilização do transporte aquaviário na costa brasileira, sendo fundamental a atuação do Governo, juntamente com as empresas de navegação e usuários do sistema, para melhoria de infraestrutura necessária, assim como, para remoção ou equacionamento dos entraves institucionais identificados.

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A EVOLUÇÃO DA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES COM FOCO NA TEORIA DAS CONTINGÊNCIAS

A EVOLUÇÃO DA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES COM FOCO NATEORIA DAS CONTINGÊNCIAS

THE EVOLUTION OF THE THEORY OF ORGANIZATIONS WITH FOCUS ON THEORY OF CONTINGENCIES

Ciro Antonio Fernandes

Mestre em Administração pela UMESP

E-mail: ciroantonio@hotmail.com | prof.ciro@unidez.br

Roberto Kupper Jorge

Mestrando em Administração pela UMESP

E-mail: robertokjorge@hotmail.com

Resumo

O presente estudo tem por objetivo traçar um mapa das Teorias das Organizações, com foco na Teoria das Contingências, a fim de tentar entender melhor suas origens e aplicações na gestão de negócios. Neste estudo são apresentadas várias ideias e pensamentos de autores que buscaram criar e organizar teorias capazes de resolver os problemas organizacionais que afetavam as indústrias da Europa e Estados Unidos, no início do século passado. Para contrapor o pensamento desses autores foram analisadas algumas teorias organizacionais modernas, que surgiram após a 2ª Guerra Mundial, e constatou-se que estas trouxeram perspectivas de uma administração mais eficiente e capaz de enfrentar as contingências do mercado, procurando criar um perfil organizacional que melhor se adequasse as suas necessidades. Quanto à Teoria das Contingências, sua proposta está em verificar e explicar quais são os modelos de Estruturas Organizacionais mais eficientes às organizações para compreender e enfrentar situações de turbulência. Este mapeamento consiste na exposição de cada teoria, de modo comparativo, buscando, assim, conhecer qual a influência que cada uma tem na administração contemporânea, bem como suas limitações. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e bibliométrica, esta última com foco exclusivo na Teoria das Contingências. Os resultados apontam para a necessidade da busca pela compreensão das estruturas das organizações modernas, pois permite ao pesquisador questionar como esses organismos são conduzidos e de que maneira estão posicionadas dentro do contexto político, social e econômico em que estão inseridos.

Palavras-chave: Teoria, Contingência, Organizações.

ABSTRACT

This study aims to map the Theories of Organizations, focusing on the Theory of contingencies in order to try to better understand its origins and applications in business management. In this study various ideas and thoughts of authors who sought, in his own way, create and organize theories capable of solving organizational problems affecting industrial Europe and the United States at the beginning of the last century are presented. To counter the thinking of those seminal authors analyzed some modern organizational theories that emerged after the 2nd World War , and it was found that they brought prospects of a more efficient and able to meet the contingencies of the market administration, seeking to create an organizational profile best would fit your needs. As the Theory of Contingency its proposal is in check and explain what are the models of organizational structures more efficient organizations for understanding and dealing with turbulence. This mapping consists of the exposure of each theory, comparative mode, seeking thus to know what influence each has on contemporary management, as well as its limitations . The methodology used in this bibliographic and bibliometric research, the latter focuses exclusively on Theory of contingencies. The results point to the need to search for understanding the structures of modern organizations because it allows the researcher to explore how these organisms are conducted and how they are positioned within the political, social and economic context in which they are inserted.

Key-words: Theory, Contingency, Organizations.

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é traçar um mapa das Teorias das Organizações, com foco na Teoria das Contingências, a fim de melhor compreender suas origens e aplicações na gestão de negócios contemporânea. Este mapeamento consiste em abordar os estudos organizacionais por meio de cada teoria que compõe as Teorias das Organizações, tendo em vista propiciar uma visão um pouco mais abrangente sobre o assunto.

As abordagens teóricas das Teorias das Organizações serão desenvolvidas de maneira comparativa. Neste sentido, a ideia é tentar identificar suas principais diferenças e quais as influências que cada uma tem na administração e quais são suas limitações na aplicação prática.

Em relação à Teoria das Contingências, foi elaborada uma pesquisa bibliométrica, para saber quais os autores se dedicaram ao assunto e com que frequência eles têm feito.

REVISÃO DA LITERATURA

Reed (2010) esclarece que os estudos organizacionais tiveram seu início quando Saint Simom (1958) e outros pensadores tentavam interpretar as nascentes transformações ideológicas e estruturais geradas pelo capitalismo industrial.

Ainda conforme Reed (2010) há uma tendência em considerar Saint-Simon (1958), como o primeiro teórico organizacional, pois teria Saint Simon observado pela primeira vez, o surgimento dos padrões organizacionais modernos, conforme pode ser lido na citação a seguir.

Organização como forma de poder – esta foi a lição ensinada por Saint-Simon. “A nova ordem seria regida não mais por homens, mas por princípios científicos” baseados na “natureza das coisas”, e portanto absolutamente independente da vontade humana. Dessa forma, a promessa da sociedade organizacional era o predomínio das leis científicas sobre a subjetividade humana, o que levaria ao desaparecimento completo do elemento político (…) [a organização] é o “grande instrumento” para a transformação das irracionalidades humanas em comportamentos racionais. (WOLIN, 1961, p.378-383).

Assim, as organizações deveriam garantir a ordem social e a liberdade pessoal pela combinação entre processos decisórios coletivos e interesses individuais, através de projetos de bases científicas em que bases administrativas prevalecessem sobre os interesses sectários aos objetivos coletivos institucionalizados. (STROING, 1962 apud REED, 2010).

É da visão de Gouldner (1971) que surge a teorização organizacional, em que “tanto o processo quanto o produto da teoria devem ser vistos como um processo de ação e criação realizado por pessoas num período histórico.” (GOULDNER, 1980 apud, REED, 2010, p. 64).

Reed (2010) define o processo de criação de uma teoria como uma prática intelectual situada em dado contexto histórico e que está voltada para a construção e mobilização de recursos ideais, materiais e institucionais para legitimar certos conhecimentos, como, também, os projetos políticos que deles derivam.

Dessa forma, as teorias que tratam dos estudos das organizações são um estudo das utilizadas como armas para a gestão de organizações, e que propiciam um melhor entendimento das relações entre idéias e ações. (BENDIX, 1974 apud REED, 2010).

Logo, é possível chegar por meio do Estudo das Organizações, à análise organizacional, a qual se desenvolveu em meio a modelos interpretativos que formam o campo intelectual de conflitos ocorridos ao longo do tempo. Estes modelos interpretativos são apresentados na tabela 1:

Fica visível que a teoria organizacional está sujeita a procedimentos metodológicos comuns, os quais são passivos de revisões estimuladas por discussões em torno de quais modelos e teorias explicativas estão sendo negociadas e debatidas.

Toda discussão tem por fato gerador a presunção da verdade de um dos lados envolvidos. Esta presunção está baseada em razões que surgem da experiência empírica do indivíduo ou grupo, ou de conceitos pré-determinados, tidos como verdades únicas e imutáveis.

Nesse sentido, o estudo das Teorias das Organizações também sofre com o choque de ideias, como aponta Burrel (2010), ao referir-se aos pressupostos de Max Weber.

Tais pressupostos ocupavam todo o espaço no campo da análise organizacional e eram objeto de reverência por parte de seus seguidores, contudo, encontravam oposição naqueles que tinham aversão à política e a metodologia.
Burrel (2010, p. 445) refere-se aos paradigmas como:

um senso acordado e profundamente assentado, uma forma de ver o mundo e como este deveria ser estudado, e que este ponto de vista é compartilhado por um grupo de cientistas que vivem em uma comunidade marcada por uma linguagem conceitual comum, e que buscam fundar um edifício conceitual comum, e que são possuídos por uma postura política muito defensiva em relação aos de fora.

Os opositores de Weber (1978) mostram que a ciência administrativa, também, está passível às linhas fraturadas da análise.

O não reconhecimento em muitos trabalhos clássicos de Max Weber provocou sua decadência, contudo, trazido à tona posteriormente, o projeto da Teoria Organizacional se transformou em um terreno contestado, sujeito a constantes batalhas.

A proposta de Neurath e Carnap (1971) por uma ciência unificada, feita através de um trabalho central denominado The fundations of the Unity of Science: Toward na Intenational Enciclopedia of Unified Science, teve seu início em 1938, sendo que no ano de 1962 foi incluído em seu conteúdo um texto chave O Structure of scientific Revolution, de Thomas Kuhn.

Apesar de Kuhn (1970) estar dentro de um contexto de unificação da ciência, seu texto é visto por muitos como uma defesa à não unificação, contrapondo a proposta inicial do projeto.

Essa posição de Kuhn (1970) não agradou à óptica contemporânea, a qual estava sob a égide do progresso da ciência. Assim Kuhn (1970) desenvolveu o conceito da ciência normal, argumentando que as evidências no progresso das ciências físicas não se ajustavam às visões indutivista ou falsificadicionista da ciência.

Segundo o pensamento de Kuhn (1970), a ciência se desenvolve por meio de tensões políticas, as quais são resolvidas na comunidade científica. A partir daí, é possível reconhecer os paradigmas existentes e a ideia de contradizê-los.

Burrel e Morgam (1979) inferem que a delimitação procusteana, ao estabilizar o campo de maneira extrema, identifica quatro paradigmas sociológicos formados pela adoção de uma posição a partir de duas dimensões básicas a Sociologia Radical e a Sociologia da Regulagem.
Quanto aos paradigmas são:

Do lado Subjetivo
1. Encontra-se Humanismo Radical composto por três características distintas:
• O Existencialismo Francês;
• O Individualismo Anarquista;
• A Teoria Crítica.

2. A Sociologia Interpretativa vem composta por outras três características, a saber:
• Fenomenologia;
• Hermenêutica;
• Sociologia fenomenologia.

O solipsismo é a doutrina que rege os dois paradigmas.

Do lado objetivo estão:
3. O Estruturalismo Radical, composto de três características:
• O Marxismo mediterrâneo contemporâneo;
• A Teoria do conflito;
• A Teoria Social Russa.

4. A Sociologia funcionalista, com quatro características:
• A Teoria integrativa;
• A Teoria do sistema social;
• O Interacionismo e teoria da evolução social;
• O Objetivismo.

Para entender o que seja ciência social é necessário inicialmente conceituá-la, Burrel e Morgan (1979) o fazem em termos de quatro conjuntos de pressupostos relativos à ontologia, à epistemologia, à natureza humana e à metodologia.

No debate sobre os pressupostos de natureza ontológica, são tratados aqueles que dizem respeito à verdadeira essência do fenômeno investigado. Esse fenômeno pode ser algo externo ao indivíduo, algo que se impõe à sua consciência partindo de fora para dentro, ou, é produto de sua própria consciência.

Quanto aos pressupostos epistemológicos, estes representam as bases do conhecimento, ou seja, qual a compreensão que o indivíduo tem do mundo à sua volta e como ele transmite os conhecimentos adquiridos, através da comunicação, decorrentes deste entendimento.

Ainda, conforme Burrel e Morgan (1979) há outro conjunto de pressupostos, os ligados à natureza humana, este conjunto trata da relação dos seres humanos com o ambiente, o qual provocará no indivíduo respostas mecânicas ou deterministas, às diferentes situações advindas do mundo exterior.

Outrossim, os três conjuntos de pressupostos abordados têm implicação direta de natureza metodológica, ou seja, cada qual tem consequências no modo como se busca o conhecimento do mundo social.

Em meio à ascensão de Max Weber, e sua Teoria da Administração Burocrática, na década de 60, auge das discussões sobre os paradigmas organizacionais, surge a Teoria das Contingências, a qual ainda estava sendo testada àquela época.

A teoria das contingências tinha como finalidade verificar quais os modelos de Estruturas Organizacionais seriam os mais eficazes em determinados tipos de organizações. Os estudos e as pesquisas realizadas buscavam compreender e explicar como as organizações reagiam em condições que variavam de acordo com o ambiente externo.

Essas condições oriundas do ambiente externo e das contingências podem ser consideradas como oportunidades ou ameaças, capazes de influenciar a estrutura e os processos internos das organizações.

De acordo com Donaldson (2010) a Teoria da Contingência estabelece que não há uma estrutura organizacional única, a qual seja altamente efetiva para todas as Organizações, ou seja, a capacidade da estrutura variará de acordo com determinados fatores, tais como o tamanho ou a estratégia da organização.

Para os estudiosos da Teoria da Contingência, Vrrom e Yetton (1973), entre os anos 50 e 60, quando começaram a aplicá-la às estruturas organizacionais, uma estrutura centralizada seria ideal para a resolução de problemas em pequenos grupos, nos quais a tarefa fosse relativamente estabelecida.

Por outro lado, deveria optar-se por uma estrutura menos centralizada e mais rica quando a tarefa contivesse incertezas, pois produziria e comunicaria a grande quantidade de conhecimentos necessários. (PENNINGS, 1992 apud DONALDSON, 2010).

Para Donaldson (2010) e Pennings (1992), a melhor maneira de reduzir as incertezas seria realizar o trabalho repetitivo, pois traria a especialização ao trabalhador e tornaria a organização mais efetiva; todavia, ara isso é necessário que haja um ambiente estável, fator que favorece uma estrutura mecanicista; contudo, uma organização que enfrenta um alto grau de incertezas, mudanças tecnológicas e de mercado, torna-se necessária uma estrutura orgânica, como indica a escola das relações humanas.

Burns e Stalker (1961), citados por Donaldson (2010), forneceram uma síntese entre a escola clássica de administração e a escola das relações humanas, alinhando as estruturas mecanicista e orgânica. Com isso os autores (2010) colocam cada uma em seu próprio lugar, dando prioridade à incerteza da tarefa guiada pela inovação como fator de contingência.

Woodward (1965) descobriu que a tecnologia de operação era a chave explicativa da estrutura organizacional. Desse modo, a tecnologia para fabricar produtos singulares em pequenos lotes, deveria ser simples, exigindo apenas as habilidades individuais e artesanais, necessitando apenas de uma estrutura orgânica. Já em grandes empresas, onde a tecnologia de operação era complicada, com grandes lotes de produções, a estrutura deveria ser mecanicista. (DONALDSON apud WOODWARD, 1965).

O modelo de Woodward (1965) era mais complexo que o de Burns e Stalker (1961), pois tal modelo continha três estágios em vez de dois; contudo, eles compartilhavam uma ideia similar de estrutura, enquanto mecânica e orgânica, e também convergiam a respeito da tecnologia como indutora de incertezas.

Mintzberg (1979) resume brevemente que uma pequena organização, aquela com poucos empregados, é efetivamente organizada como estrutura simples em que há poucos níveis de hierarquia; à medida que a organização cresce a estrutura torna-se diferenciada.

Para Mintzberg (2003), a estrutura de uma organização pode ser definida simplesmente como a soma total das maneiras pelas quais o trabalho é dividido em tarefas distintas e, depois, como a coordenação é realizada entre essas tarefas. Assim, Mintzberg (2003) propõe em seu livro Criando Organizações Eficazes, estruturas com 5 configurações: Ajuste mútuo; Supervisão Direta; Padronização dos processos de trabalho; Padronização dos Resultados do Trabalho; Padronização das Habilidades dos Trabalhadores. No caso extremo da grande organização, sua estrutura é uma burocracia mecânica, afirma Mintzberg (1979) citado por Donaldson (2010).

As organizações cresceram dentro de um terreno absolutista do mercantilismo feudal, com seus monopólios de comércio e indústria, no qual frequentemente os deslocados e os despossuídos construíam nichos artesanais e industriais para si próprios. (HARDY e CLEGG, 2010 apud HALL, 1986).
Essa estrutura muito se diferencia daquela, em que os precursores da moderna organização idealizaram uma estrutura medieval de guildas, nas quais o indivíduo entrava na organização como aprendiz e ascendia a um nível superior após certo período, podendo chegar a mestre.

Diferentemente das guildas, as Organizações Modernas são estruturas de status de tarefas descontínuas. As tarefas são fragmentadas, as habilidades são diversas, e o conhecimento é diferentemente codificado, mantido e avaliado. (HARDY e CLEGG, 2010 apud OFFE, 1976).

De acordo com os teóricos da evolução do trabalho, o conhecimento é dividido entre aquele que é mais valorizado e que geralmente é mais esotérico. É o abstrato e mais relacionado ao trabalho mental. E o que é menos valorizado, mais mundano e mais relacionado ao trabalho manual.

Nas distinções de quem é mais valorizado e menos valorizado, dentro do estudo organizacional, está implícita a noção de organização contemporânea, as quais agregam atividades de supervisão e outras que existem para executar as ordens superiores.

Neste sentido, o poder aparece como forma de dominação, penetrando nas estruturas organizacionais, nas quais alguns são servidos e outros grupos não. As conceituações sobre os interesses mostram a arena da vida organizacional em termos da ideia básica de classe e de suas relações sociais.

Para Marx (1976), os interesses de classe são estruturalmente pré-determinados, independentemente de outras bases de identidade. Esses interesses derivam das relações concernentes à propriedade e controle dos meios de produção. (MARX, 1976 apud HARDY e CLEGG, 2010).

Weber (1978) admitia que o poder fosse derivado da propriedade e do controle dos meios de produção, contudo, argumentava que o poder não se reduzia exclusivamente às categorias dicotômicas de propriedade e não propriedade, como proposto por Marx (1976).

Dentro da perspectiva weberiana, o poder deriva tanto da propriedade quanto do conhecimento das operações, ou seja, a capacidade de conhecimento de certas pessoas em controlar os métodos de produção e da inserção das diversas identidades ocupacionais que fazem surgir a vida subjetiva das organizações; portanto, o poder nas organizações refere-se à estrutura hierárquica dos cargos e as suas relações recíprocas. No campo da administração, tal poder é classificado como legítimo, aceite pelos cientistas sociais que raramente veem necessidade em explicar o porquê desse poder deve ser hierárquico; e é a política que se preocupa com a criação de legitimidade para certas ideias, valores e demandas – não apenas ação desempenhada como resultado de uma legitimidade adquirida previamente. O gerenciamento dos significados relaciona-se a um processo de construção de símbolos e de uso de valores, concebidos tanto para criar legitimidade para nossas demandas, como para “deslegitimar” as demais. (HARDY e CLEGG, 2010).

O poder contido na hierarquia é visto como normal e inevitável, pois deriva naturalmente do desenho formal da organização; no entanto, ele pode variar dependendo o tipo de organização. Segundo Benis et all (1958) nas formais, reside a autoridade baseada na posição, já nas informais, existe o poder, entendido como a capacidade real de influência. Esta capacidade real de influência está baseada em uma série de fatores, incluindo, a posição dentro da empresa. (BENIS, 1958 et all apud HARDY e CLEGG, 2010).

A resistência às determinações emanadas das autoridades competentes não deveriam, de acordo com a visão funcionalista, existir dentro das organizações, sendo a obediência uma prática constante; entretanto, a obediência não pode ser garantida, segundo Coch e French (1948) a resistência ocorre devido ao poder de discernimento do indivíduo, os quais utilizam essa capacidade para escolher um curso ou outro.

O poder pode ser utilizado tanto de maneira construtiva, com responsabilidade agregando valor à organização, e, também, que possibilite que as metas sejam atingidas, ou, de forma irresponsável, que as pessoas com más intenções busquem o benefício próprio em detrimento da organização.
Dentro dos estudos organizacionais, outro campo importante de análise é o que se refere à Economia das Organizações, que se distingue das demais análises organizacionais, devido à sua crença em análises de equilíbrio, suas hipóteses de gestores maximizadores de lucro e o uso de pressupostos abstratos. (BARNEY e HESTERLY, 2010).

A economia das organizações aparentemente tem apenas dois aspectos em comum com os outros pensamentos sobre análise organizacional. O primeiro diz respeito ao contínuo interesse nas organizações ou firmas. O segundo é que a maioria dos economistas de organizações tem um interesse inabalável na relação entre competição e organização.

Barney e Hesterly (2010) explicam que as teorias clássica e neoclássica, começando por Adam Smith, apontam para a incrível habilidade dos mercados para coordenar a produção econômica e efetuar as transações a um custo muito baixo e sem planejamento do governo; em síntese, de acordo com Adam Smith a economia poderia ser coordenada por um sistema descentralizado de preços, a chamada “mão invisível”. Aliás, vale ressaltar que muitas das economias estão envolvidas na formalização dessa proposta. Tais economias, conforme Demsetz (1995) buscam identificar as condições necessárias para o uso efetivo da mão invisível, planejando mudanças necessárias. Esse esforço passou a ser conhecido em vários livros de economia, como a teoria da firma.

Essa teoria, na verdade, enfoca exclusivamente a estrutura e a operação de mercados e sua incapacidade de explicar a existência das firmas. Para a Economia das Organizações, há uma pergunta essencial a ser respondida: Por que as Organizações existem? Tal pergunta torna-se importante dentro do contexto da teoria da microeconomia neoclássica.

Para Ronald Coase (1937), a razão para as organizações existirem é que, às vezes, o custo de gerenciar transações econômicas por meio de mercados é maior do que gerenciar essas mesmas transações dentro dos limites das organizações.
A primeira extensão de importância do pensamento de Coase (1937) se refere à ênfase nos problemas de mensuração ou medição como razão para existência das firmas. (BARNEY e HESTERLY, 2010 apud ALCHIAN e DEMSETZ, 1972)

Problemas de mensuração decorrem das equipes de produção, as quais podem produzir mais cooperando entre si, do que quando atuando separadamente. Essa cooperação pode variar à medida que haja incentivo para tal, contudo, pode decair caso aumente, entre os membros da equipe, a propensão à ociosidade. Assim, a firma surge para atender à necessidade de monitorar os esforços das pessoas que formam a equipe. Os resultados desse monitoramento serão menores incentivos à ociosidade e maiores incentivos ao aumento da produção.

Como alternativa à visão de Alchian e Demsetz (1972) para existência das organizações, em que os pesquisadores focavam exclusivamente a produção em equipe, surge a Teoria do Custo de Transações, de Oliver Williamson (1975).

Uma afirmação básica da TCT é que mercados e hierarquias são instrumentos alternativos para completar um conjunto de transações. A TCT apoia-se em dois pressupostos essenciais acerca dos atores econômicos engajados em transações:
1. Racionalidade limitada: significa que aqueles que estão envolvidos nas transações econômicas são “intencionalmente racionais, mas apenas de modo limitado”;
2. Oportunismo: em decorrência da necessidade de se encontrar respostas contratuais ou outras respostas diante das imprevisíveis eventualidades, o oportunismo surge como ponto de partida dos pressupostos comportamentais usados no pensamento econômico corrente. (BARNEY e HESTERLY, 2010).

A mais pesquisada aplicação da TCT é a integração vertical. É a mais clara investigação da questão, por que existem as organizações? Os estudiosos da TCT utilizam a integração vertical como uma análise que examina as decisões de fazer ou comprar, e apóia-se na proposição de que os investimentos específicos aumentam a probabilidade de uma transação ser internalizada. (BARNEY e HESTERLY, 2010).

Depois de receber várias críticas, sendo as três centrais:
1) o foco na minimização de custos;
2) atenuar os custos de organização; e
3) negligenciar o papel das relações sociais nas transações econômicas, a TCT foi suplantada pela Teoria da Agência.

A Teoria da Agência busca compreender as causas e consequências para as organizações, da discordância sobre as metas, partindo dos mesmos pressupostos que a TCT, quando define o ser humano como interesseiro, de racionalidade limitada e propensa ao oportunismo.

A diferença da Teoria da Agência para TCT está na ênfase às atitudes de risco dos proprietários e dos agentes. Em seu desenvolvimento original, a teoria da agência foca a relação entre os gestores e os acionistas. Dessa forma, a teoria foi utilizada para analisar o controle das corporações, incluindo o papel do corpo diretivo e a remuneração dos administradores de cúpula. (BARNEY e HESTERLY, 2010).

Como a TCT, a teoria da agência também foi alvo de críticas. Embora a teoria seja apoiada parcialmente por evidências empíricas, questões importantes têm sido levantadas. Dentre essas questões está a colocação de que a teoria da agência adota uma visão irrealista dos seres humanos e das organizações. (BARNEY e HESTERLY, 2010)

A economia dos custos de transação, a teoria da agência e a microeconomia não podem explicar o desempenho heterogêneo das organizações. Conforme Rumell et al (1991), entender por que algumas firmas superam as outras é a principal questão a ser pesquisada em gestão estratégica; ao se prosseguir esta revisão da literatura sobre a teoria das organizações, depara-se com a teoria institucional. A Teoria Institucional aborda as ações habituais das pessoas dentro do ambiente organizacional. São comportamentos que respondem a estímulos particulares para solucionar uma determinada situação.

Desde o artigo de Meyer e Rowan (1977), proliferaram várias análises organizacionais baseadas em uma perspectiva institucional. Os trabalhos realizados sob o foco da teoria institucional abordam questões que vão desde a expansão de políticas de pessoal à redefinição da missão organizacional e de sua estrutura; contudo, Tolbert e Lynne (2010) afirmam que há pouco consenso sobre a definição desse conceito chave, mensurações ou métodos no âmbito dessa tradição teórica.
Em síntese, ainda, conforme Tolbert e Lynne (2010), a teoria institucional ainda não desenvolveu um conjunto central de variáveis-padrão, não tem metodologia de pesquisa padronizada nem tampouco conjunto de métodos específicos.

Zucker (1977), que se concentrava em estudar as consequências dos níveis de institucionalização diferenciados, aponta para dois aspectos: a institucionalização como processo e como variável atributo. Este resultado conseguido por Zucker (1977) pode ter sido influenciado pelo fato de ter trabalhado com amostras de pequenos grupos, ou devido ao fato de que muitas das análises organizacionais não utilizaram uma abordagem para a institucionalização baseada em processo.

Assim, a institucionalização é quase sempre tratada como um estado qualitativo, ou seja, as estruturas são institucionalizadas ou não. As organizações somente foram reconhecidas pelos sociólogos americanos como um fenômeno social, após o trabalho de Robert Merton no final da década de 40. Nessa ocasião, os sociólogos também entenderam que sendo as organizações um fenômeno social, elas mereceriam um estudo próprio.

Os estudos organizacionais feito pelos sociólogos tratavam as organizações nos aspectos relacionados a problemas sociais gerais, tais como desigualdade social, relações intercomunitárias, desvio social etc. Meyer e Rowan (1977) desvinculam estrutura formal e ação, definindo implicitamente estruturas institucionais como aquelas que estão sujeitas a tal desvinculação, diferente do que haviam dito anteriormente, quando utilizaram o mesmo conceito de Berger e Luckeman (1967) e Zucker (1977), para definir estruturas institucionais como uma estrutura que é considerada pelos membros de um grupo social, como eficaz e necessária, pois serve como importante força causal de padrões estáveis de comportamento. (TOLBERT e LYNNE, 2010)

Neste sentido, existe uma ambiguidade inerente ao argumento fenomenológico de Meyer e Rowan (1977), pois a própria definição de “institucionalizado” contradiz a alegação de que as estruturas institucionais são passíveis de ser desvinculadas do comportamento.

Tolbert e Lynne (2010) prosseguem na análise sobre o argumento de Meyer e Rowan (1977), quando esclarecem que para ser institucional, a estrutura deve gerar uma ação. Segundo Giddens (1979), uma estrutura que não se traduz em ação é fundamentalmente, uma estrutura “não social”.

A institucionalização pode ser descrita como um processo central de criação e perpetuação de grupos sociais duradouros é a conclusão que chegou Berger e Luckman (1967).

Tolbert e Lynne (2010) definem a institucionalização como o resultado final de um processo que pode ser definido como uma tipificação de ações tornadas habituais, ou seja, ações relacionadas a comportamentos que desenvolveram empiricamente e são adotados por um indivíduo ou grupo de indivíduos que buscam a resolução de problemas recorrentes. Conforme Tolbert e Lynne (2010), uma vez que tipificações acarretam classificações ou categorizações de atores, aos quais as ações são associadas, este conceito implica os significados atribuídos à ação habitual que se tornaram generalizados, isto é, independentes de indivíduos específicos que desempenham a ação.

Ainda, segundo Tolbert e Lynne (2010), análises fenomenológicas institucionais sugerem dois processos envolvidos na formação inicial das instituições, a saber:
1. Habitualização: Identificado, também, por Zucker (1977) como um dos componentes-chave do processo de institucionalização. Esse processo é de desenvolvimento de comportamentos padronizados para a solução de problemas e a associação de tais comportamentos a estímulos particulares;
2. Objetivação: Consiste no desenvolvimento de significados gerais socialmente compartilhados ligados a esses comportamentos. Necessária à transposição de ações para contextos além de seu ponto de origem.

No decorrer das pesquisas, Berger e Luckman (1967) sugerem um aspecto adicional da institucionalização, o qual também foi identificado por Zucker (1977) e chamado de exterioridade, a qual está relacionada ao grau em que as tipificações são vivenciadas como realidade própria, uma realidade que confronta o indivíduo como um fato externo e coercitivo. Neste, o processo se dá por meio de ações que adquirem a qualidade da exterioridade, qualificado como sedimentação ou estágio de total institucionalização, ou seja, propagação do processo adotado pelos membros da organização para que tenha continuidade histórica e de sobrevivência destas ações a longo prazo.

Neste sentido, a institucionalização torna-se completa quando existe uma baixa resistência da oposição, apoio e promoção cultural como também correlação positiva com os resultados obtidos.

Dimaggio e Powell (1983) identificam outro conceito na análise macro institucional de mudança estrutural, em que o foco é a similaridade organizacional, que é o isoformismo. Esse conceito considera as organizações e sociedades como sinônimas, incluindo as organizações que oferecem um determinado tipo de produto ou serviço. Dimaggio e Powell (1983) dividem o isoformismo em quatro partes:
1. Competitivo: existe onde competição e mercado livre estão presentes;
2. Institucional: que pode ser coercitivo, mostrando pressões formais e informais exercidas por outras organizações, e por expectativas culturais da sociedade;
3. Mimético: as organizações se modelam refletindo outras organizações de forma não intencional (rotatividade de profissionais, firmas de consultorias, associações industriais);
4. Normativo: decorrente da profissionalização (especialistas universitários e a elaboração de redes profissionais) que fundem novos modelos institucionais com rapidez.

Dentre os vários campos de estudos organizacionais, existe um subcampo que vem provocando debates entre críticos e céticos. Esse subcampo dos estudos organizacionais é a ecologia organizacional.

Para melhor entender o que é Ecologia Organizacional, é necessário retroceder até meados dos anos 70. Nessa época, a abordagem predominante na teoria de organização e gerenciamento enfatizava a mudança adaptativa nas organizações. Líderes ou coalizões dominantes em organizações alteravam as características organizacionais, dando-lhes um perfil apropriado para responder a demandas e a mudanças do ambiente organizacional.

Nesse sentido, a linha de pesquisa dentro da perspectiva ecológica da mudança organizacional gerou grande excitação, controvérsia e debate dentro da comunidade científica dedicada à teoria das organizações e da administração. (BAUM, 2010).

As condições políticas, econômicas e sociais provocam uma relativa abundância e diversidade de organizações; e é com base nestas condições que os ecólogos organizacionais buscam a resposta para entender o porquê a tantos tipos de organizações, justificando dessa forma, suas composições mutantes ao longo do tempo.

A pesquisa ecológica tipicamente é iniciada por três observações: 1) Diversidade, propriedade dos agregados de organizações; 2) Dificuldade das organizações para executar e planejar mudanças rápidas para responder a demandas de ambientes incertos e mutáveis; e 3) Instabilidade na comunidade das organizações. Elas aparecem e desaparecem continuamente.

Os elementos básicos da análise ecológica das organizações são: Organizações, populações e comunidade. Uma população é constituída por um conjunto de organizações engajadas em atividades e padrões similares de utilização de recursos. Já as comunidades se desenvolvem das relações que são estabelecidas entre as populações engajadas em atividades distintas; portanto, comunidades organizacionais são sistemas funcionalmente integrados de populações interagentes.

O foco do debate, citado anteriormente, está, em primeiro lugar, nas hipóteses a respeito das influências relativas à história organizacional, seu ambiente e seus padrões de mudança da organização, desenvolvidas pela teoria da inércia estrutural. (BAUM, 2010 apud HANNAN; FREEMAN, 1977). A teoria da inércia estrutural afirma que:

as organizações existentes frequentemente têm dificuldades para mudar sua estratégia e estrutura suficientemente rápida para acompanhar as demandas de ambientes incertos e mutáveis e enfatiza que a maioria das inovações organizacionais, frequentemente ocorre no início das organizações e populações. (BAUM, 2010, p. 136)

Para os críticos e céticos, isto significa determinismo ambiental e a desconsideração da ação humana. (Perrow, 1986 apud BAUM, 2010). De fato as, na abordagem ecológica, as ações de indivíduos, em particular, não importam para as organizações. E, segundo Hannan e Freeman (1989), uma parte da confusão é que o determinismo é erroneamente contrastado com o probabilismo.

Os Hannan e Freeman (1989) esclarecem que os indivíduos podem influenciar o futuro das organizações, porém, sob condições de incertezas, existem restrições às suas habilidades para conceber e implementar corretamente mudanças que aumentem as chances de sobrevivência e sucesso organizacional diante da competição.

Uma segunda confusão está na análise, se as ações dos indivíduos são mais importantes para a organização do que para toda a população de organizações. Nesse aspecto, entende-se que existem limites para que as ações individuais influam sobre a variabilidade nas propriedades organizacionais.

Conforme Baum (2010), a ecologia organizacional é uma subdisciplina vital dos estudos das organizações, pois como teoria científica, a ecologia organizacional contribui para o progresso em termos de sua capacidade para acumular problemas empíricos resolvidos, enquanto minimiza o escopo de problemas empíricos e conceptuais não resolvidos.

Algumas demonstrações não são como as pessoas veem e como os grupos querem mostrar. A partir daí surge a Teoria da Crítica e como os estudos críticos na administração vêm buscando alternativas para o funcionalismo.

Segundo Burrel e Morgan (1982), foi desenvolvida uma linha de pensamento em que todas as teorias das organizações estão baseadas em ciência e sociedade, pois o estruturalismo radical é um paradigma identificado que concentra nas relações estruturalistas, defendendo que as mudanças radicais vêm de fatores políticos e econômicos.

Para melhor estruturação das mudanças radicais o funcionalismo procura saber de que maneira um elemento relaciona-se no mesmo sistema social e no todo para tirar consequências e gerar manutenção.

Harbemas (2003) especifica que democracia é institucionalizar o principio do discurso, a integração entre falante e ouvinte em compartilharem o saber, a integração social e o entendimento mútuo (consenso) sobre algo do mundo. Já o dissenso está ligado à teoria comunicativa e ao ouvinte em poder falar não em algumas situações.

O pós-modernismo da Teoria da Critica que envolve um processo de evolução e conhecimento com o passar do tempo gerando avanços e inovações nas áreas da administração, levando-se em consideração que no pós-modernismo cada um tem um motivo para escolher o seu lado, mas com uma delimitação do que é novo e do que é passado. Weick e Westley (2004) especificam que é o ato de evidenciar a experiência contínua.

A aprendizagem organizacional ganhou notoriedade na década de 90, embora presente há mais tempo (década de 70) na literatura, com raízes na corrente do desenvolvimento organizacional, e surgiu como alternativa para explicar como as ações afetam e são afetadas por processos institucionais menos racionais, com um viés positivista e estrutural-funcionalista.

Peter Senge (1990) trouxe a ideia de que a aprendizagem organizacional deveria ocorrer nas organizações de aprendizagem, lugar onde continuamente expandem a capacidade de criar os resultados que se deseja e onde se aprende a aprender. As primeiras abordagens sobre aprendizagem organizacional avaliavam resultados e desempenho. À medida que começa a ser utilizada pela Teoria das Organizações, seu foco passa a ser processos.

Weick e Westley (2004) afirmam que a aprendizagem não muda a organização, mas é a medida de seu sucesso e que a aprendizagem se dá pelo ato de evidenciar a experiência contínua e o que as pessoas aprendem são significados intersubjetivos inseridos na cultura. Para Weick & Quinn (1999), a mudança organizacional é constante, cumulativa e evolutiva, e pequenos avanços que ocorrem rotineiramente em toda a organização podem proporcionar uma mudança significativa na organização.

As organizações podem proporcionar um relacionamento mais amplo em diversos fatores a serem considerados como redes, tendo em vista que temos fatores a serem desenvolvidos, Lopes e Moraes (2000) formulam três etapas:
• A definição de redes em um sentido mais amplo;
• A definição de redes em um sentido mais restrito conectado à administração;
• A definição de redes organizacionais.

Temos de ter uma visão de como as redes eram antes e o que se pode fazer de melhor em beneficio de todos. As redes podem estreitar os relacionamentos em diversas áreas, setores, departamentos sempre com manutenção, melhorias e avanços tecnológicos, não somente dentro das organizações, mas em todo o mundo.

ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA

Com base em indicadores bibliométricos, foi realizado um mini mapeamento da produção científica em relação ao tema “Teoria das Contingências”, para isso foram delimitados alguns critérios para a seleção dos trabalhos:
a. Trabalhos realizados entre os anos de 1999 a 2011;
b. Disposição em banco de dados de Universidades Federais, Estaduais e privadas;
c. Inserção do periódico no Sistema Qualis-Capes com classificação ‘A’ ou ‘B’ nacional;
d. Ter o conteúdo ligado à área da administração, com foco na Teoria das Contingências.

A partir da delimitação das bases de pesquisas teve início o processo de busca nas seguintes plataformas de consultas: ANPAD, RAE, RAUSP, RAC, UFRGS, UFBA, UFScar, SCIELO, BDBTD e USP.

O resultado obtido foi o seguinte: Entre os anos de 1999 a 2011 foram produzidos 10 trabalhos, sendo 3 (três) dissertações, 7 (sete) artigos e 0 (zero) tese. O local onde mais se produziu trabalhos com os critérios determinados para a pesquisa foi a USP, com um total de 5 (cinco) produções, sendo 3 (três) dissertações e 2 (dois) artigos. Os bancos de dados que obtiveram êxito nas pesquisas foram: BDBTD, SCIELO e USP.

Dentre os autores, não houve algum que se destacasse mais, todos com apenas 1 (um) trabalho produzido. Alguns autores especificados abaixo levam em consideração pontos importantes na teoria contingencial, o que pode ocasionar algumas discussões e pontos polêmicos a serem tratados e que de alguma maneira vai contribuir nesta esfera.

Alfred Chandler (2009), um grande autor da Teoria Contingencial realizou uma investigação histórica sobre as mudanças estruturais de grandes organizações, relacionando-as com a estratégia de negócios. Alfred Chandler (2009) estuda a experiência de quatro grandes empresas americanas: Dupont, General Motors, Standard Oil e Sears Roebuck, e examina comparativamente essas corporações americanas demonstrando como a sua estrutura foi sendo continuamente adaptada e ajustada à sua estratégia.

Chandler (2009) entende que a estrutura organizacional das grandes empresas americanas foi sendo gradativamente determinada pela sua estratégia mercadológica. A estrutura organizacional corresponde ao desenho da organização, isto é, a forma organizacional que ela assumiu para integrar seus recursos, enquanto a estratégia corresponde ao plano global de alocação de recursos para atender as demandas do ambiente.

Tom Burns e G. M Stalker (2008) pesquisaram vinte indústrias inglesas para verificar a relação existente entre as práticas administrativas e o ambiente externo dessas indústrias. Impressionado com os diferentes procedimentos administrativos encontrados nessas indústrias, classificaram-nas em dois tipos: Mecanísticas e Orgânicas.

A conclusão de Burns e Stalker (2008) é que a forma mecanística de organização é apropriada para condições ambientais estáveis, enquanto que a forma orgânica é apropriada para condições ambientais de mudanças e inovação. Em resumo, há um imperativo ambiental, isto é, é o ambiente que determina a estrutura e o funcionamento das organizações.

Paul R. Lawrence e Jay w. Lorsch (2010) fizeram uma pesquisa sobre o defrontamento entre organização e ambiente que marca o aparecimento da Teoria da Contingência. Ainda, segundo Paul R. Lawrence e Jay w. Lorsch (2010) preocupados com as características que as empresas devem ter para enfrentar com eficiência as diferentes condições externas, tecnológicas e de mercado, fizeram uma pesquisa sobre dez empresas em três diferentes meios industriais (plásticos alimentos empacotados e recipientes/containers).

Paul R. Lawrence e Jay w. Lorsch (2010) apontam que os problemas organizacionais básicos são a diferenciação e a integração.

Diferenciação: As organizações apresentam esta característica. É a divisão da organização em departamentos, cada qual desempenhando uma tarefa especializada para um contexto ambiental também especializado.

Cada departamento reage unicamente àquela parte do ambiente que é relevante para a sua própria tarefa especializada. Se houver diferenciação nos ambientes específicos aparecerão diferenciações na estrutura e abordagem dos departamentos.

Integração: Refere-se ao processo oposto, gerado por pressões vindas do ambiente da organização no sentido de obter unidade de esforços e coordenação entre vários departamentos.

Ao lidar com os ambientes externos vão se segmentando em unidades, cada um com tarefa específica de tratar com uma parte das condições existentes fora da organização (unidades de vendas, de produção, de pesquisa). Cada um desses segmentos se relaciona com um segmento do universo exterior à empresa.

Essa divisão do trabalho entre departamentos marca um estado de diferenciação como visto acima. Porém, esses departamentos precisam fazer um esforço convergente e unificado para atingir objetivos globais da organização. Em consequência, ocorre também um processo de integração.

CONIDERAÇÕES FINAIS

Os Estudos Organizacionais permitem compreender as estruturas das organizações modernas, a partir do momento em o pesquisador passa a questionar como as organizações são conduzidas e de que maneira estão posicionadas dentro do contexto político, social e econômico em que estão inseridas, e se são realmente eficientes.

Neste trabalho são apresentadas várias ideias e pensamentos de autores que outrora buscaram criar e organizar teorias que fossem capazes de resolver os problemas organizacionais que se apresentavam à época.

Os teóricos modernos passaram a questionar as teorias do passado e quais as principais influências provocadas por elas na administração das organizações, isso em decorrência das rápidas mudanças ocorridas no mundo, e que afetam diretamente o desempenho das organizações.

Esses teóricos trouxeram a tona perspectivas de uma administração mais eficiente, e que pudesse enfrentar as contingências do mercado, procurando criar um perfil organizacional que melhor se adequasse às suas necessidades.

Dentro desse contexto de enfrentamento das imprevisibilidades do ambiente, externo e interno, é que surge a Teoria das Contingências como uma alternativa estratégica à administração das organizações.

A Teoria das Contingências propõe verificar quais são os modelos de Estruturas Organizacionais mais eficientes às organizações e, também, compreender e explicar como as organizações reagem em situações de turbulência; porém, apesar de sua importância, a pesquisa bibliométrica apresentada neste trabalho revelou que pouca coisa tem sido escrita sobre a Teoria das Contingências, ou seja, nota-se que a teoria em si tem despertado pouco interesse dos pesquisadores em administração.

Tais questões podem ser vistas neste trabalho em forma de críticas e contestações por meio do pensamento de pesquisadores modernos, em relação à forma de pensar dos principais teóricos do passado, fato que serviu de base para reflexão sobre a conceituação e posicionamento da Teoria das Organizações de maneira geral e da Teoria das Contingências em particular.

Isto permitiu avaliar e entender a evolução de ambas as teorias, sem, contudo, exaurir, evidentemente, todo o conteúdo que abrange o assunto em questão.

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