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Saúde e meio ambiente – o caso “gripe A”

SAÚDE E MEIO AMBIENTE – O CASO “GRIPE A”

HEALTH AND NATURAL ENVIRONMENT: THE INFLUENZA A´S CASE

Me. Mara Luiza Lordani

Mestrado em Educação, Administração e comunicação; Professora nas áreas de Ciências e Meio Ambiente da UNIBR – Faculdade de São Vicente

maralluiza@terrra.com.br

Resumo

O artigo discute a relação existente entre o desequilíbrio ambiental e a saúde da população mundial. São abordadas as bases da transmissão de uma determinada doença infecciosa emergente, a gripe A (H1N1) e a influência do ambiente nesta transmissão. Por fim são abordados os aspectos atitudinais, relevantes para a mudança do comportamento do ser humano frente aos agravos da qualidade de vida planetária.

Palavras-chave: gripe, meio ambiente, transmissão, saúde, doença.

ABSTRACT

The article discusses the relation between environmental imbalance and world population’s health. It is considered the grounding of an emerging infectious disease’s transmission, influenza A (H1N1), and the influence of the environment in this transmission. In the end, it is considered the attitudinal aspects, relevants to human being’s behavior change response to injuries of planetary lives’ quality.

Key-words: Keys words: influenza A (H1N1), transmission

A maneira como a sociedade atual vive é fruto do modo de agir e pensar do ser humano em relação à natureza e a outros seres vivos, que remonta há muitos séculos (DAY, 1969). O ser humano vem causando danos irreparáveis aos três elementos básicos naturais que tornaram possível a vida de inúmeras espécies: a água, o ar e a terra.
A questão ambiental tem adquirido nos últimos anos uma grande importância devido a fatores globais, que influenciam no cotidiano da população: poluição atmosférica, contaminação das águas, efeito estufa, buraco na camada de ozônio e perda da biodiversidade.

A relação entre a saúde da população humana e o meio ambiente já está presente nos primórdios da civilização. Ao despontar do século XIX, as cidades cresciam, sobretudo, devido à revolução industrial. Com o crescimento desordenado, a ausência de noções de higiene e sustentabilidade surgiram várias doenças que se tornariam epidemias.

No início do século XX, a Ecologia torna-se uma ciência respeitada e a relação saúde-meio ambiente é firmada pela incorporação dos conceitos ecológicos nos estudos médicos. Várias doenças passam a ser estudadas pelo ponto de vista ambiental. No Brasil, há inúmeras delas: febre amarela, dengue, doença de Chagas, malária, cólera etc¹.

Em meados da década de 1980, surge o conceito de doenças emergentes, que são doenças cuja incidência em humanos foi aumentada durante as últimas duas décadas ou que poderão ameaçar a humanidade em um futuro próximo (LUNA, 2002). Tanto as doenças novas como as que pareciam “esquecidas”, mas retornaram com um número elevado de casos, podem ser consideradas emergentes. São elas: Aids, hepatite, gripe comum, dengue, tuberculose, gripe aviária e a mais nova delas: a influenza A².

A influenza A é uma doença respiratória causada pelo vírus A (H1N1). Tornou-se rapidamente uma epidemia devido a mutações no vírus e à transmissão de pessoa a pessoa, principalmente por meio de tosse, espirro ou de secreções respiratórias de pessoas infectadas (SANCHEZ-VALLEJO, 2009). A gripe A apresenta os mesmos sintomas da gripe humana comum, com ligeiras diferenças, pois agride muito mais aqueles que já possuem o sistema imunológico debilitado.

Comparando a gripe comum (H1N1) com a gripe A pode-se ressaltar que só nos Estados Unidos morrem, anualmente, cem mil pessoas em decorrência desta primeira.

Relacionar a gripe A H1N1 apenas ao desequilíbrio ambiental é resumir demais o assunto. Vários são os fatores que fazem uma doença receber o título de doença emergente:
a) Aumento da população mundial;
b) Grandes movimentações da população, por lazer, negócios, guerras ou desastres ambientais;
c) Condições precárias de moradia e alimentação;
d) Mudanças ecológicas, como a extinção de vários biomas, relacionadas ao desenvolvimento econômico, industrial e a urbanização desorganizada;
e) Diminuição da qualidade de vida com a crise mundial, gerando o desemprego.

É necessário, porém, salientar a relevância do fator ambiental quando tratar de saúde coletiva. Al Gore (2006), em seu documentário “Uma verdade inconveniente” mostra uma pesquisa realizada pelo professor Roger Ravel, iniciada em 1960, na Universidade Columbia, USA, que relaciona o aumento do dióxido de carbono na atmosfera com o aumento gradativo da temperatura da Terra.

Este aumento de temperatura fez vários vetores³ se deslocarem para outras regiões as quais não eram seu habitat carregando consigo os micro-organismos que albergam, mudando o panorama epidemiológico de várias doenças. Algumas delas, consideradas endemicamente tropicais, passaram a ser disseminadas no mundo todo. Outro exemplo clássico é de não mais existir doenças tipicamente de inverno. A gripe A se disseminou rapidamente em países que estão em pleno verão.

As penúltimas Olimpíadas quase se tornaram trágicas pela enorme quantidade de gás poluente existente na atmosfera da China, principalmente na capital, Pequim, e em Xangai, uma das cidades-sede. Atletas estavam com medo de se arriscar e muitos treinaram com máscara.

A Humanidade só é capaz de mudar seus hábitos, pensamentos e atitudes a partir do momento que sofre “golpes”. Aqui, define-se como “golpes” as chamadas respostas que a sociedade recebe frente a determinadas situações e, para tal, temos a história que nos mostra isso com muita clareza. As grandes guerras fizeram vários países mudarem sua postura em relação à política internacional e a defesa de seu território com sofisticação tecnológica. Pode-se utilizar como exemplo o caso “11 de setembro de 2001” com a qual ficou constatada a fragilidade de uma das maiores nações da contemporaneidade.

Vive-se uma nova Era: a Era da globalização, das grandes inovações tecnológicas e a Era do “ecologicamente correto”, todavia, poucos entendem o que realmente significa ser “ecologicamente correto”. Comumente tem-se grupos que fazem passeatas, demonstrações de amor à natureza, mas que, em contrapartida, pouco contribuem para a efetiva melhoria da relação Homem-Natureza. Isso só será possível quando o ser humano perceber que são as suas atitudes cotidianas as grandes responsáveis pelo desequilíbrio ambiental.

Esta nova Era traz um novo golpe, que sugere a mudança comportamental da população. A natureza  dá sua resposta pelos abusos sofridos desde o início da civilização humana.

A consciência ecológica esperada não é apenas a de se reciclar o lixo e economizar a água. É muito mais do que isso. É a mudança radical do estilo de vida que a população mundial adotou, em todos os sentidos, para a melhoria da qualidade de vida e da saúde planetária.

REFERÊNCIAS

DAY, Michael H. O Homem Fóssil.São Paulo: Melhoramentos,1969.

GORE, Al. Uma Verdade Inconveniente: O que devemos saber (e fazer) sobre o aquecimento global. São Paulo: Manole. 2006.

LUNA, Expedito J. A. A emergência das doenças emergentes e as doenças infecciosas emergentes e reemergentes no Brasil. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, n°3, vol.5, dez. 2002.

MILLER, G. Tyler Jr. Ciência Ambiental.Tradução: All Tasks, 11ª edição, São Paulo: Cengage Learning, 2011

UJVANI, Stefan Cunha. Meio Ambiente & Epidemias.São Paulo: SENAC, 2011.

Meio eletrônico

SANCHEZ-VALLEJO, M. Antonia. Influenza A (H1N1): o medo é mais contagioso que o vírus. Trad. Luiz Roberto Mendes Gonçalves. 14 mai. 2009. Disponível em: < http://www.ecodebate.com.br/2009/05/14/influenza-a-h1n1-o-medo-e-mais-contagioso-que-o-virus/>. Acesso em: 30 de julho, 2012.

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¹ Anualmente, morrem cerca de 30 milhões de pessoas no mundo todo, vítimas de contaminação por vírus, bactérias ou protozoários.
²O termo se refere a doenças que se espalharam recentemente ou doenças que apareceram recentemente numa área geográfica na qual provocaram problemas de saúde pública realmente alarmantes em escala local, regional ou global. Alguns autores consideram as doenças mais antigas, como o dengue e o cólera, com o termo de doenças ressurgentes.
³Vetor é aquele organismo que hospeda um micro-organismo capaz de causar determinada doença, podendo ser inseto, roedor ou até pássaro.