indice3

Educação física no ensino médio: apontamentos e perspectivas na pedagogia de projetos

EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO: APONTAMENTOS E PERSPECTIVAS NA PEDAGOGIA DE PROJETOS

PHYSICAL EDUCATION IN HIGH SCHOOL: NOTES AND PERSPECTIVES IN PEDAGOGY OF PROJECTS

Evandro Capitanio

giselleagazzi@terra.com.br

Docente da rede particular de São Leopoldo-RS,
Licenciado em Educação Física pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos/2006,
Pós-graduando em Educação Física Escolar pela
Universidade Luterana do Brasil/2012.

E-mail: evandrocapitanio@yahoo.com.br

Resumo

Na prática pedagógica, como professor de Educação Física no Ensino Médio, na cidade de São Leopoldo/ RS, constata-se que os alunos, de um modo geral, parecem não ter interesse ou significado na disciplina e nos conteúdos tradicionalmente trabalhados. Ao compreender a Pedagogia de Projetos como uma alternativa metodológica, no qual poderia corroborar na superação do processo de ensinar e aprender fragmentado, disciplinar e descontextualizado, elaborou-se um projeto de ensino visando estudar as sociedades alemãs e suas atividades culturais, procurando assim, desenvolver os conteúdos da Educação Física de outra maneira. Traçou-se então, como objetivo desta pesquisa, relatar e refletir como tal disciplina pode ser trabalhada a partir dessa proposta pedagógica. Inspirando-se na abordagem metodológica da pesquisa-ação (TRIPP, 2005) descreve-se o processo e as reflexões advindas da aplicação do projeto em uma turma de alunas do Ensino Médio do Colégio PVSINOS, de São Leopoldo. Ao finalizar essa pesquisa é possível dizer que, no âmbito realizado, o projeto contou com a participação ativa dos alunos nas discussões e propostas no transcorrer do mesmo, gerando motivação para o conhecimento do novo; assim sendo, pode-se concluir que a Pedagogia de Projetos na Educação Física pode ser uma alternativa metodológica para lidar com as problemáticas e superações destas no cotidiano escolar.

Palavras-chave: Educação Física escolar. Ensino Médio. Pedagogia de projetos. Prática pedagógica.

ABSTRACT

In the Pedagogical Practice, as a Physical Education teacher in High School, in the city of São Leopoldo /RS, one evidence that students, in a general way, seem not to have interest or see any meaning in this subject and in the contents traditionally studied. By comprehending the Pedagogy of Projects as a methodological alternative, in which one could affirm in overcoming of the fragmented teaching and learning process, disciplined and de-contextualized, one elaborated a teaching project aiming to study the German societies and their cultural activities, searching like this to develop the Physical Education contents in another way. One designed then, as objective of this research to tell and reflect how such subject can be worked from this Pedagogical proposal. Inspiring himself in the methodological approach activity-research (TRIPP, 2005) one describe the process and the reflections coming from the application of the project in a group of High School female students in Colégio PVSINOS, São Paulo. To end this research it is possible to say that, in the extent accomplished, the project counted on the active participation of the students in the discussions and proposals in the come off of it, generating motivation to knowledge of the new that being, one can conclude that Pedagogy of Projects in Physical Education can be a methodological alternative to deal with these overcoming and problems in the school daily routine.

Key-words: School Physical Education. High School. Pedagogy of Projects. Pedagogical Practice.

1 Apresentando a temática

O tema deste artigo surgiu de inquietações profissionais as quais levaram à reflexão sobre a prática pedagógica vigente da educação física escolar.  Anos atrás, no 1ª grau, atual Ensino Fundamental, os professores de Educação Física organizavam os conteúdos disciplinares dividindo-os em bimestres, geralmente focalizando esportes como o futsal, o voleibol, o handebol e o basquete. Esses conteúdos, apresentados de forma fragmentada e desenvolvidos superficialmente, não abrangiam as dimensões conceitual, procedimental e atitudinal. 

Segundo Ferraz (1996), essas dimensões podem ser entendidas da seguinte maneira na Educação Física: a dimensão procedimental diz respeito ao saber fazer; no que diz respeito à dimensão atitudinal refere-se a uma aprendizagem que implica a utilização do movimento como um meio para alcançar um fim, mas este fim não necessariamente se relaciona a uma melhora na capacidade de se mover efetivamente. Neste sentido, o movimento é um meio para o aluno aprender sobre seu potencial e suas limitações. A dimensão conceitual significa a aquisição de um corpo de conhecimentos objetivos, desde aspectos nutricionais até sócio culturais como a violência no esporte ou o corpo como mercadoria no âmbito dos contratos esportivos.

Ainda sobre as dimensões dos conteúdos de Educação Física, segundo Darido e Rangel (2005) o papel dessa disciplina ultrapassa o ensinar esporte e seus fundamentos e técnicas (dimensão procedimental), mas inclui também os seus valores subjacentes, ou seja, quais atitudes os alunos devem ter nas e para as atividades corporais (dimensão atitudinal); e, finalmente, busca garantir o direito do aluno de saber por que ele está realizando esse ou aquele movimento, isto é, quais conceitos estão ligados àqueles procedimentos (dimensão conceitual).

Os conteúdos, como apresentados à época, não estabeleciam relação entre si, nem apresentavam um significado mais amplo daquilo que estava sendo proposto. Os educandos, apenas praticantes das atividades propostas, não participavam das decisões sobre os conteúdos, tampouco como esses conteúdos seriam conduzidos.

Hoje, os docentes de Educação Física no colégio PVSINOS de São Leopoldo, percebem que os alunos até gostam das aulas, porém não compreendem a Educação Física como um componente curricular como as outras disciplinas.

Talvez esse posicionamento seja reflexo da própria postura dos professores, os quais parecem ignorar o potencial da disciplina em proporcionar mudanças de comportamento e possibilidades de crescimento pessoal e social. Alunos e professores precisam se conscientizar de seus papéis dentro da escola, com a finalidade de atingir focos mais importantes (criação, criticidade, transformação, discussão) que a simples transmissão e reprodução de conhecimentos (PEREIRA e MOREIRA, 2005).

A inquietação virou angústia, pois se observa a reprodução de um modelo fragmentado, sem contextualizar os conteúdos, sem procurar estabelecer relação entre os mesmos, e, talvez, sem sentido para o educando.
Os conteúdos são abordados num bimestre ou trimestre e encerrados geralmente com uma avaliação teórico-prática. Em seguida, inicia-se um novo conteúdo. Esta forma de desenvolvimento dos conteúdos cria um ambiente desfavorável à participação dos alunos, no seu processo educativo. Verifica-se a desmotivação, a falta de comprometimento e um grande desinteresse por parte deles frente às atividades propostas, principalmente quando são abordados os conteúdos na dimensão conceitual. Parece haver uma falta de sintonia entre os conteúdos teóricos e os conteúdos práticos.

Esse problema se acentua com o avanço dos anos letivos, culminando no Ensino Médio, no qual os alunos parecem não ter interesse ou ver significado na disciplina de Educação Física; têm a visão de que tal disciplina é só um momento de lazer, de diversão, de tempo livre fora da sala de aula. 

Uma das alternativas para superar ou não encontrar essas dificuldades seria a inclusão do aluno no processo educacional, possibilitando-o ser sujeito do próprio conhecimento; incluí-los nas decisões e organização dos conteúdos curriculares e desenvolver estes últimos de forma dinâmica, favoreceria a participação e a interação dos alunos. Tal posicionamento decorre de leituras e reflexões das perspectivas contemporâneas da Educação Física escolar.

Para Freire (2007), tanto a escolha dos conteúdos quanto a maneira de tratá-los entre os alunos, deve resultar de uma decisão conjunta entre discentes, seus pais, professores, funcionários e especialistas do ensino.

Segundo Oliveira e Gonzaga (2009), a necessidade de articular à educação processos vinculados com o real, com a vida e com os problemas a partir do contexto dos sujeitos envolvidos no cotidiano da sala de aula, contribui significativamente no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que quando os estudantes participam ativamente da organização das informações com o auxílio dos professores, por meio de suas inferências, desenvolvem a construção do seu próprio conhecimento, pois, do contrário, não seria possível ultrapassar o nível da informação, através de uma conduta passiva, comprometendo as bases imprescindíveis da solidificação do conhecimento.
A partir dessas considerações iniciais é possível traçar a seguinte questão de pesquisa: como a Educação Física escolar no âmbito do ensino médio pode ser desenvolvida a partir da perspectiva da Pedagogia de Projetos?

Soares (2002) comenta que, no âmbito dos debates sobre organização curricular, a Pedagogia de Projetos tem se mostrado como uma alternativa de trabalho a qual permite essa totalidade. É essa perspectiva que se aponta como possibilidade.

Para realizar tal reflexão elaborou-se um projeto intitulado As sociedades alemãs de São Leopoldo e suas atividades de preservação cultural, como proposta de ensino direcionada a uma turma do Ensino médio do Colégio PVSINOS de São Leopoldo, no qual se relata o processo de construção desde sua idealização e desenvolvimento, apresentando e refletindo sobre a Pedagogia de Projetos como uma alternativa pedagógica para desenvolver os conteúdos curriculares de Educação Física.

O colégio desenvolve as atividades dessa disciplina no contra turno, com dois períodos semanais de 50 minutos de duração; as turmas são divididas por gênero, compostas por alunos dos três anos finais do Ensino Médio, 1º, 2º e 3º anos, ou seja, são turmas multi seriadas. A turma participante do projeto e, consequentemente, da pesquisa foi o grupo feminino.

A metodologia adotada inspirou-se na Pesquisa-ação, que segundo Tripp (2005) é um tipo de investigação-ação utilizada para definir qualquer processo que siga um ciclo, como o projeto desenvolvido, aprimorando a prática por meio da alternância sistemática entre agir no campo da prática e investigar a respeito dela.

Nessa perspectiva, o pesquisador/professor não somente planeja a atividade a ser realizada, mas participa ativamente de todo o processo, valendo-se de observações diretas das atividades do grupo, da análise de documentos (produção e desenvolvimento de projetos), fotografias, depoimentos, entrevistas, entre outras técnicas, necessitando realizar o registro e análise do material produzido (TRIPP, 2005).
Na sessão seguinte, contextualiza-se a pedagogia de projetos refletindo sobre a possibilidade de apresentar os conteúdos curriculares da Educação Física escolar a partir deles.

 

2 Os conteúdos curriculares apresentados em forma de projetos

Os projetos de trabalho representam uma nova postura pedagógica, coerente com uma nova maneira de compreender e vivenciar o processo educativo de modo a responder a alguns desafios da sociedade atual (SCALCO e UDE, 2003).

Nesse sentido, evidencia-se uma ruptura com a visão tradicional de educação. Não se trata, portanto, de uma mera técnica, mas de uma maneira de compreender o sentido da escolaridade baseado no ensino para compreensão, que é uma atividade cognoscitiva, experiencial, relacional, investigativa e dialógica (SCALCO e UDE, 2003).

Hernández (2008) comenta que as pedagogias tradicionais percebem o mundo de forma estática e homogênea, cabendo ao professor o papel de transmitir informações prescritas a alunos passivos, produzindo assim, uma desumanização das relações, esvaziando o processo de ensino–aprendizagem de todo sentimento que o envolve.

O processo ensino aprendizagem, a partir dessa via metodológica alternativa, poderia corroborar e superar o processo de ensinar e aprender fragmentado, disciplinar, descontextualizado, unilateral, direcionador que se constata na maioria das escolas. Desse modo, o aluno aprende participando, vivenciando sentimentos, tomando atitudes diante dos fatos, escolhendo procedimentos para atingir determinados objetivos. Ensina-se não só pelas respostas dadas, mas principalmente pelas experiências proporcionadas, pelos problemas criados, pela ação desencadeada (JOLIBERT, 1994).

Ao participar de um projeto, o aluno está envolvido em uma experiência educativa em que o processo de construção de conhecimento está integrado às práticas vividas. Esse aluno deixa de ser, nessa perspectiva, apenas um “aprendiz” do conteúdo de uma área de conhecimento qualquer. É um ser humano que está desenvolvendo uma atividade complexa, e que nesse processo está se apropriando, ao mesmo tempo, de um determinado objeto de conhecimento cultural e se formando como sujeito cultural (JOLIBERT, 1994).

Partindo do pressuposto de que a Pedagogia de Projetos representa uma via de transformação da escola e da sala de aula aí inserida, dando-lhe um novo significado, os resultados obtidos seriam a própria transgressão de suas regras e práticas convencionais, alterando e redimensionando-a em espaços verdadeiramente educativos.

Acreditando-se nesses pressupostos, elaborou-se a proposta descrita a seguir.

3 O projeto: estudando as sociedades alemãs de são Leopoldo e suas atividades de preservação cultural.

O projeto desenvolvido e analisado propunha-se a estudar as sociedades alemãs de São Leopoldo e suas atividades comunitárias que contribuíram para a prática de atividades esportivas na cidade. Essas sociedades foram os primeiros núcleos do que hoje chamamos de centros esportivos, realizando inúmeras atividades esportivas.

Algumas destas atividades não são mais praticadas nos dias atuais, com o projeto busca-se resgatar a cronologia dos jogos desenvolvidos, bem como as funções das sociedades na comunidade.

Traçou-se como objetivo principal proporcionar situações de aprendizagem baseadas no tema acima apresentado, nos quais o educando pudesse observar, analisar, refletir, interagir e intervir no seu meio, transformando o educando em sujeito do seu conhecimento.

Os objetivos específicos do projeto foram: reconhecer o contexto em que as sociedades se constituíam; analisar a importância que as atividades tiveram no desenvolvimento da cidade; estabelecer uma relação com as práticas esportivas das antigas sociedades leopoldenses com as práticas esportivas organizadas hoje em dia e; estruturar propostas de intervenção e melhorias na estrutura de práticas esportivas na cidade.

A metodologia de ensino se daria por estudos bibliográficos, visitas nos atuais centros de convívio e de entrevistas com pessoas que participaram desses centros, e assim, coletar e analisar informações, organizando o trabalho. A ideia final era promover um evento prático, no qual os participantes do projeto pudessem vivenciar as antigas atividades.

O projeto inicial foi composto por três etapas: a primeira delas, o estudo bibliográfico sobre quem são, como se organizavam e qual era a finalidade dos centros sociais. Numa segunda etapa, a visita de campo, para registro fotográfico e entrevistas e, na terceira e última etapa, a organização de um evento esportivo/ social, colocando em prática todo o conhecimento adquirido durante a realização do projeto. A avaliação programada ocorreu de forma sistemática durante todo o processo, finalizando no grande evento.

Essa forma de abordar um conteúdo, principalmente no componente curricular de Educação Física é uma experiência nova para quase todos na turma, portanto, será uma aprendizagem para todos inclusive para o professor.

Ao desenvolver o projeto uma questão crucial seria como o tema seria acolhido pelas alunas, se veriam isso como uma questão imposta, sem sentido ou interesse pelos alunos.

Um tema pode surgir dos alunos, mas isso não garante uma efetiva participação destes no desenvolvimento do projeto. O que caracteriza o trabalho com projetos não é a origem do tema, mas o tratamento dado a esse tema, no sentido de torná-lo uma questão do grupo como um todo e não apenas de alguns ou do professor (GIROTTO, 2003).             

Na conversa inicial da exposição da proposta, observou-se que as alunas ficaram um pouco receosas, de o que fazer, de como fazer e qual era o objetivo do projeto; notou-se que a proposta causou certo desconforto nas alunas, pois sairiam do convencional e as aulas de Educação Física não trariam somente conteúdos dos esportes coletivos.

No segundo encontro, as alunas começaram a coleta das informações, foram à busca de material sobre o tema, as pesquisas foram realizadas principalmente na internet e na biblioteca da escola. Neste, já se iniciou a estrutura do projeto, separando as alunas em três grupos que seriam responsáveis em estudar especificamente as três sociedades alemãs mais difundidas na colonização.

O fato de prevalecer nas colônias alemãs um forte espírito associativo colaborou na formação e disseminação de sociedades de ginástica, canto e clubes de caça e tiro (ALENCASTRO e RENAUX, 1997).

Neste momento observou-se que os grupos começaram a se definir conforme afinidades: as alunas com interesse por canto e dança, e as com vivência nessa área já se organizaram no mesmo grupo; da mesma forma, as meninas as quais praticavam, formaram outro grupo e assim também com a sociedade de caça e tiro.

Com os grupos definidos e os temas delimitados, entrou-se na fase de aprofundar o assunto. Neste momento tivemos um problema, pois as informações colhidas nos sites da internet, bem como da biblioteca do colégio eram insuficientes para continuar o projeto. Verificou-se o quanto as alunas estavam envolvidas com o trabalho e que perante uma dificuldade de encontrar materiais para pesquisa bibliográfica, começaram a dar sugestões e a opinar sobre qual seria a melhor forma de resolver o problema.

A solução encontrada pelo grupo foi a de organizar uma saída de campo para visitar o Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, o maior museu da imigração alemã da América Latina. Esse museu conta com um acervo histórico de livros e fotografias à disposição para consultas.
O museu estabelece algumas normas para a consulta do acervo, precisa ser um grupo pequeno com no máximo seis pessoas e para fazer o registro da visita só com equipamento digital. Como a turma era composta por dezoito alunas, tinha-se um problema: como organizar a saída de campo sem excluir ninguém do processo?

Novamente as alunas encontraram a solução: elegeram duas representantes de cada grupo para pesquisar o acervo histórico, e ficaram responsáveis de repassar o material para as demais.

Um dos pontos relevantes foi a articulação das alunas para resolverem os problemas, discutindo as possibilidades. Considerou-se tal procedimento essencial à vida escolar e profissional.

De acordo com Valente (1999), ao desenvolver um projeto, o professor pode trabalhar com os alunos diferentes tipos de conhecimentos, imbricados e representados em termos de três construções: procedimentos e estratégias de resolução de problemas, conceitos disciplinares e estratégias e conceitos sobre aprender.

No Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, o grupo foi recebido pelo Diretor e Historiador Márcio Linck, que, com muita propriedade, fez um breve relato sobre a imigração alemã e sobre o surgimento das sociedades alemãs.

Alguns desses conteúdos referiam-se aos alemães que, ao colonizar a região, não pensavam em retornar à Europa, mas sim em se estabelecer permanentemente no país adotivo. Mesmo assim se apegavam com maior fervor às recordações de sua pátria de origem, e no que tange à língua, sentimentos e tradição são tão fiéis ao país de nascimento como se fossem apenas viajantes numa terra estranha (MULHALL, 1974).

A adesão à prática da ginástica foi significativa nos estabelecimentos educacionais da colônia alemã, pois as escolas eram regularmente supridas por pastores ou professores formados na Alemanha, seguindo, por conseguinte o modelo pedagógico lá adotado (TESCH, 1998).
O estudo de campo finalizou-se com uma visita guiada pelas dependências do museu, no qual estão em exposição vários equipamentos das sociedades como armas das sociedades de tiro e antigos equipamentos esportivos.

Constatou-se que as alunas participantes do projeto perceberam a abrangência do estudo, de como esses acontecimentos estão ligados com as práticas esportivas e sociais.

No encontro posterior, as participantes do projeto socializaram com as demais de seus grupos o material e as informações encontradas. Esse material foi catalogado e impresso servindo de base para próxima etapa do projeto.

Quando se idealizou o projeto, a ideia central era que a visitação dessas sociedades tinha como objetivo central a vivência práticas das atividades realizadas nelas. Mas, no transcorrer do projeto, as participantes trouxeram novas possibilidades, novos caminhos a serem seguidos, caminhos que o professor-pesquisador não havia imaginado inicialmente.

Para Freire e Prado (apud PRADO, 2003) na pedagogia de projetos é necessário ter coragem de romper as limitações do cotidiano, muitas vezes auto impostas e delinear um percurso possível que pode levar a outros, não imaginados a priori.  Mas, para isto, é fundamental repensar as potencialidades de aprendizagem dos alunos para a investigação de problemáticas que possam ser significativas para eles e repensar o papel do professor nessa perspectiva pedagógica (PRADO, 2003).

Como proposta final do projeto, havia duas atividades programadas. Primeira: os grupos organizariam uma exposição fotográfica e com informações sobre as sociedades em forma de cartazes e, segunda, realizariam uma saída de estudos para praticar atividades relacionadas com as sociedades estudadas; por votação, ficou definido conhecer a sociedade de atiradores de São Leopoldo.

Acredita-se na importância crucial desse momento, ou seja, quando o aluno mobiliza os conhecimentos adquiridos durante o processo e apresenta o seu produto final.
Segundo Pacheco (2007), há satisfação nos educandos quando percebem que finalizaram a pesquisa e podem mostrar os resultados alcançados. A possível frustração de não ter respondido a todas as questões iniciais da pesquisa é sempre menor do que a alegria das descobertas realizadas.

Para a exposição fotográfica e exposição dos cartazes foram utilizados todos os materiais encontrados durante o projeto, principalmente do acervo do Museu Histórico. Durante o processo de organização, houve a socialização das alunas sobre o que era importante constar na apresentação. A pergunta comum era: “Professor, o que você quer que contenha este cartaz?”, nesse momento observou-se que elas sempre esperavam uma solicitação, uma tarefa, a ser feita, não percebiam que o trabalho era delas; entretanto, esse era o momento ideal para usarem sua criatividade e autonomia.

De acordo com Castro (2006), criatividade e autonomia andam de mãos dadas na medida em que alguns pressupostos para o desenvolvimento de ambas são os mesmos. A experiência do mundo, a interação entre sujeitos e a construção ativa do conhecimento podem proporcionar impulso criador e questionador.

Observou-se que depois de realizada alguma etapa, as alunas sempre tinham uma ideia a ser melhorada. Segue um exemplo disso:

E de uma forma bem criativa podíamos ter feito uma maquete, chamaria mais atenção e as pessoas iriam entender mais sobre as mudanças que ocorreram ao decorrer do tempo. J.G.

Finalizando o trabalho, realizou-se o estudo de campo com a visitação à sociedade de caça e tiro de São Leopoldo. O grupo foi recebido pela secretária e por um funcionário, o qual relatou todas as modalidades praticadas, bem como parte da história do clube. Nesse momento, as alunas responsáveis sobre a pesquisa dessa sociedade fizeram suas contribuições para os demais; todavia, ficaram surpresas com a diferença da teoria e prática, nas suas palavras:
“Parece um pouco diferente daquilo que a gente viu nos livros e nas fotos”

Na sociedade de atiradores não houve condições de realizar as atividades práticas, pois seriam necessários equipamentos especiais. Entretanto, nas dependências da sociedade, existe um espaço destinado a paintball, o qual as alunas tiveram o maior interesse em conhecer.

Ao avaliarem o projeto, algumas falas das alunas foram bem representativas:

Gostei desse trabalho, porque através dele eu pude conhecer um pouco mais sobre a nossa cidade e nós podemos ver a importância das sociedades na nossa cultura. C.S.
Achei interessante o projeto, pois muitas coisas que eu pesquisei não fazia ideia que poderia ter existido pelo fato de ser um assunto que nunca me chamou muita atenção.

4 Considerações Finais

Ao finalizar essa pesquisa foi possível constatar que a Pedagogia de Projetos pode ser caracterizada como uma alternativa didática para se trabalhar alguns conteúdos curriculares de Educação Física, considerando a participação ativa dos alunos nas discussões e propostas no transcorrer do projeto, gerando motivação para o conhecimento do novo, por meio de situações as quais suscitem a curiosidade e motivação, na busca de solução para as dificuldades encontradas no transcorrer do caminho.

Um dos pontos fundamentais no trabalho desenvolvido foi a competência apresentada de saber lidar com as diferenças decorrentes das atividades coletivas, aflorando o espírito de liderança de alguns, a boa desenvoltura oral de outros.

Com base no exposto, a partir dos resultados da pesquisa, vislumbrou-se as possibilidades e limitações da utilização da Pedagogia de Projetos, por meio do projeto, Sociedades alemãs de São Leopoldo e suas atividades de preservação cultural, no desenvolvimento dos conteúdos de Educação Física escolar a propiciar momentos de interação consciente entre os sujeitos e os processos de pesquisa, podendo ser adaptado a cada realidade e necessidades dos envolvidos.
O projeto não se encerra; ao contrário, os desdobramentos foram ao encontro de pontos sem nó, que os alunos demonstram interesse em procurar a desvendar. Talvez, esse tenha sido o resultado mais positivo: o interesse e motivação pelo estudo da Educação Física.

REFERÊNCIAS
ALENCASTRO, L. F., RENAUX, M. L. Caras e modos dos migrantes e imigrantes.In: NOVAIS, F. (org.) História da vida privada no Brasil. Volume 2: pp. 291-335, São Paulo: Cia. das Letras, 1997. 
ALMEIDA, F. J. & FONSECA JÚNIOR, F.M. Projetos e ambientes inovadores. Brasília: Secretaria de Educação a Distância – SEED/ Proinfo – Ministério da Educação: 2000.
FERRAZ, O. L. Educação Física escolar: conhecimento e especificidade, a questão da pré escola. Revista Paulista de Educação Física, supl. 2, 16-22, 1996.

FREIRE, F.M.P. & PRADO, M.E.B.B. Projeto Pedagógico: Pano de fundo para escolha de um software educacional. In: J. A. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à pratica educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2007.

HERNÀNDEZ, F. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Fernando Hernández. Trad. Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artmed, 1998.

JOLIBERT, Josette. Formando crianças leitoras de texto. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
_____. Formando crianças produtoras de textos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
MULHALL, M. O Rio Grande do Sul e suas colônias alemãs. Porto Alegre: Bels / Instituto Estadual do Livro, 1974.
OLIVEIRA, E.S; GONZAGA, A.M. A Pedagogia de projetos na Aprendizagem de Conceitos no Ensino de Ciências. VII Enpec – Encontro Nacional de Pesquisadores em Educação em Ciências 2009.

PEREIRA, R. S.; MOREIRA, E. C. A Participação dos Alunos do Ensino Médio em Aulas de Educação Física: Algumas Considerações.Revista da Educação Física, Maringá: UEM, v. 16, n 2 . p. 121-127, 2005.
PRADO, M. Pedagogia de Projetos. Série “Pedagogia de Projetos e Integração de Mídias” – Programa Salto para o Futuro, Setembro, 2003.
SCALCO, G; UDE, W. Transdisciplinaridade e complexidade. Belo Horizonte, Presença Pedagógica. V9, nº 52. Jul/ago. 2003.
TESCHE, L. A Educação Física como meio de preservação cultural alemã no RS. in VI Congresso Brasileiro de Historia do Esporte, Lazer e Educação Física. Rio de Janeiro: UGF, 1998, pp 372 -377.
TRIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005
VALENTE, J.A. Formação de Professores: Diferentes Abordagens Pedagógicas. In: J.A. Valente (org.) O computador na Sociedade do Conhecimento. Campinas: UNICAMP-NIED, 1999.

Meio eletrônico

CASTRO, Ana Luisa Manzini Bittencourt de. O desenvolvimento da criatividade e da autonomia na escola: o que nos dizem piaget e vygotsky. Rev. psicopedag., São Paulo,v.23, n.70, 2006.
Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862006000100007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 06 jul. 2012.

PACHECO, R. A. Ensinar Aprendendo: A Práxis Pedagógica do Ensino por projetos no Ensino Fundamental: http://www.periodicos.udesc.br/index.php/percursos/article/viewFile/1593/1305

SOARES, A. F. Os projetos de Ensino e a Educação Física na Educação. http://www.revistas.ufg.br/index.php/fef/article/view/44/2690antil.